Informativo
ECONOMISTA NÃO DESCARTA RECESSÃO E AGRAVAMENTO DA FOME NO BRASIL COMO EFEITOS DA GUERRA
Para Simão Silber, disparada nos preços de commodities é
consequência das sanções à Rússia e atingem o frete de produtos e a
agroindústria.
Por
Cezar Xavier
A recuperação econômica mundial pós-pandemia
havia apenas começado quando a invasão russa à Ucrânia provocou a disparada do
preço de diversos produtos, especialmente nos casos do petróleo, aço e grãos.
Especialistas se dividem quanto à possibilidade de uma recessão global, mas o
impacto das sanções econômicas à Rússia já é visível: um indicador é a alta nos
valores de alimentos e commodities no mercado internacional, por exemplo.
Organismos financeiros mundiais como o Fundo
Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial começam a movimentar seus
modelos matemáticos para revisar a previsão de crescimento mundial. O que era
3,6% no pós-pandemia, já deve cair para cerca de 3% com a guerra. A queda não é
mais significativa, considerando-se que a economia russa, de US$ 1,4 trilhões
de PIB é considerada média, portanto, mais vulnerável a uma recessão em funções
das represálias da guerra. O PIB russo é bem menor que o brasileira, de quase US$
2 tri.
Em entrevista, Simão Silber, professor da
Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP e pesquisador
da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), conta que, a curto prazo,
é pouco provável que ocorra uma queda no valor do PIB mundial, o que
representaria recessão. “O que se espera para 2022 é uma diminuição do
crescimento [da economia], não uma recessão”, diz. Na Rússia, a recessão
pode chegar de 5% a 10%.
O sistema financeiro russo, no entanto, pode
entrar em crise devido às represálias mundiais à guerra. Além da própria
Ucrânia, que, nas palavras do professor, está “destruída, em ruínas, após três
semanas de ataques”, os países europeus tendem a ser os mais afetados pelos
efeitos do conflito.
“O impacto na Europa será pior do que nos
Estados Unidos, país que é relativamente independente na produção energética e
de grãos”, completa Silber. Ele lembrou que os EUA estão craqueando o
xisto betuminoso para substituir o petróleo.
EFEITOS
NO BRASIL
No cenário nacional, as consequências da
guerra já são perceptíveis, embora os efeitos sejam indiretos. Mesmo sendo
exportador de petróleo, o aumento dos valores dos combustíveis já ocorreu,
quando na última sexta-feira (11), a Petrobras anunciou um reajuste de 18,8% no
preço médio da gasolina e de 24,9% no do diesel, com base nas oscilações do
valor do petróleo no mercado global.
O Brasil não compra trigo da Rússia, mas o
preço do pãozinho aumenta, pois a Argentina não quer vender, esperando um
aumento do lucro. Assim, o mercado já prevê, em apenas uma semana de impacto da
guerra, um aumento da inflação no ano de 5,5% para 6,5%.
“Na esteira do reajuste do combustível, tudo
sobe, porque o Brasil é um país rodoviário. Não temos ferrovias, não temos
transportes marítimos, o que temos são caminhões, que precisam de diesel.”
A agroindústria também sofre com o impacto do
aumento do preço dos fertilizantes, produto antes importado da Rússia. Como
consequência, “o nível de pobreza vai aumentar muito no Brasil, porque as
pessoas não terão dinheiro para se alimentar”, diz o pesquisador.
“O Brasil teria um crescimento muito modesto
[na economia] este ano, mas agora a probabilidade de enfrentarmos uma recessão
em 2022 não é desprezível”, finaliza. O economista relata que já se esperava
uma recuperação de apenas 0,5% da economia, no arrasto de uma pandemia que
tornou o Brasil o terceiro mais atingido pela doença no mundo. Agora, tende a
ser “pífia”, segundo ele.
Fonte:
Portal Vermelho, edição de entrevista à Rádio USP
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