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25/09/2025

LULA ABRE DIÁLOGO COM TRUMP, MAS COM LIMITE: "SOBERANIA NÃO É DISCUTÍVEL"

Por Murilo da Silva

O presidente Lula participou de uma coletiva de imprensa, em Nova York (EUA), nesta quarta-feira (24), ao final das agendas decorrentes da 80ª Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU). A grande parte das perguntas se concentrou no encontro que teve com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, no qual o norte-americano falou em uma “química” entre eles. A breve aproximação entre os líderes foi suficiente para enfurecer o bolsonarismo, que tem utilizado as sanções dos EUA contra o Brasil para interesses próprios.

De acordo com o presidente Lula, o encontro com Trump, ainda que breve, foi recebido com “satisfação” e o que parecia impossível (um encontro entre eles) se tornou real: “Eu fiquei feliz quando ele disse que pintou uma química boa entre nós”, brincou Lula.

Ele também revelou que Trump estava com “uma cara simpática, muito agradável” e que espera uma surpresa boa do encontro inesperado: “eu acho que pintou uma química mesmo”.

Para o líder brasileiro, esta aproximação é muito importante e ele torce para que a reunião entre eles, acertada preliminarmente no breve encontro após o discurso de Lula na ONU, se concretize. O presidente demonstrou estar aberto a todas as pautas, mas colocou como limite qualquer contestação à soberania e democracia brasileira. Para os jornalistas, Lula ainda criticou o genocídio em Gaza, perpetrado por Israel e destacou o encontro com o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky.

REUNIÃO COM TRUMP

Segundo Lula, a relação entre Brasil e os EUA é muito importante, por isso a estabilização das relações sem hostilidades é urgente.

“Eu torço para que dê certo [a reunião], porque Brasil e os Estados Unidos são as duas maiores democracias do continente. Temos muitos interesses empresariais, industriais, tecnológicos e científicos, no debate sobre a questão digital e inteligência artificial e na questão comercial. Portanto, se nós somos as duas maiores economias da América, não há por que Brasil e Estados Unidos estarem em conflito”, afirmou Lula.

“Eu fiz questão de dizer ao presidente Trump que temos muito o que conversar. Eu fiquei satisfeito quando ele disse que é possível a conversa. E quem sabe, dentro de alguns dias, a gente possa se encontrar e fazer uma pauta positiva”, completou, ao ressaltar que para ele o importante é que chefes de Estado se respeitem, mesmo com ideologias diferentes.

INFORMAÇÕES CORRETAS

Na visão de Lula, o presidente Trump foi municiado com informações incorretas sobre a relação com o Brasil e lembrou que nos últimos 15 anos, os EUA mantiveram um superávit comercial em relação ao Brasil em mais de 410 bilhões de dólares.

“Estou convencido que algumas decisões tomadas pelo presidente Trump se devem ao fato da qualidade de informações que ele tinha com relação ao Brasil. Na hora que ele tiver as informações corretas, eu acho que ele pode mudar de posição”, destacou Lula, lembrando a relação diplomática de mais de 200 anos entre as nações.

 “Eu estendi a mão para ele, cumprimentei e disse que Brasil e Estados Unidos têm muita coisa para conversar, têm muitos assuntos em jogo. E não tem limite de assunto para a gente conversar. Não tem veto de assunto … qualquer assunto [pode ser tratado]. Mas para isso tem que ter uma conversa”, enfatizou.

“Na hora que a gente tiver o encontro, eu acho que tudo isso ficará resolvido. E o Brasil e os Estados Unidos voltarão a viver em harmonia, quimicamente estáveis”, disse o bem-humorado Lula, em referência à “química” entre os dois indicada por Trump.

SOBERANIA

Mesmo com a predisposição em debater todos os assuntos que o governo estadunidense julgar necessário, Lula indicou quais são os limites da conversa.

“O que não é discutível é a soberania brasileira e a nossa democracia, isso não é discutível. Nem com o presidente Trump, nem com nenhum presidente do mundo”, declarou.

“Quando tiver eleição nos Estados Unidos eu não me meto e quando tiver eleição no Brasil ele não se mete. É assim que a gente faz: a gente acata o resultado da soberania do povo nas urnas de cada país”.

Para o presidente, é fundamental que Trump entenda que a Suprema Corte brasileira realizou um processo minucioso em julgar os envolvidos na tentativa de golpe de Estado e que todos os envolvidos dispuseram dos instrumentos de direito de defesa.

No entendimento de Lula não há problemas em um encontro presencial entre os dois, uma vez que não serão discutidos segredos de Estado. A imprensa tentou tirar alguma declaração receosa dele, uma vez que Trump tem protagonizado encontros em que coloca líderes mundiais em situações constrangedoras, como já fez com Zelensky e o presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa. No entanto, Lula descartou a possibilidade ao dizer que não há espaço para brincadeira entre dois ‘quase’ octogenários (ambos têm 79 anos).

GENOCÍDIO

Sobre os ataques de Israel na Faixa de Gaza, Lula voltou a ressaltar que é um genocídio.

“Não tem uma guerra em Gaza, você tem um genocídio de um exército fortemente preparado contra um povo indefeso, sobretudo mulheres e crianças”.

Na sua visão, o Conselho de Segurança da ONU poderia ter tomado uma atitude mais forte antes: “A mesma ONU que teve força para criar o Estado de Israel, ela precisa ter força para criar o Estado palestino.”

Ao condenar também o ataque do Hamas que precipitou a guerra, Lula disse que a decisão de diversos países em reconhecer a Palestina durante a Assembleia foi acertada, ainda que tardia. Com isso, espera que os demais países se unam para pressionar para a efetiva solução de dois Estados e para que Israel coloque fim à guerra e à ocupação que promove.

ENCONTRO COM ZELENSKY

Antes da coletiva, o líder brasileiro esteve com o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, a pedido dele, e comentou a reunião.

“Ninguém tem coragem de falar ainda, mas acho que todos eles já têm o limite de negociação. Eu tinha feito uma proposta baseada no documento assinado pelo Brasil e pela China, na criação do grupo de amigos, que o secretário-geral das Nações Unidas devesse juntar um grupo de países que quisesse construir a paz, que fosse a Moscou conversar com o Putin, que fosse a Kiev conversar com o Zelensky, e construísse uma proposta para fazê-la publicamente. O secretário-geral da ONU me disse que não tinha autorização para fazer isso. Mas essa proposta continua em pé e eu falei para o Zelensky hoje”, declarou Lula.

“Hoje senti o Zelensky com muito mais vontade de conversar do que em outras reuniões. Eu acho que é a mesma coisa do Putin […] O que eu disse para o Zelensky é que eu vou me esforçar e conversar com quem eu puder, inclusive vou conversar com o Trump”, revelou.

Fonte: Portal Vermelho

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