Informativo
Guilherme Mello: Feliz ano velho ou feliz ano novo?
Sempre ao início de um novo ano os economistas são consultados, seja para diagnosticar o ano anterior, seja para utilizar seus obscuros conhecimentos para desvendar o futuro. Mais próximos dos antigos alquimistas do que dos modernos químicos, os economistas se apressam a desfilar uma série de previsões com graus de detalhe que ironicamente alcançam a segunda casa decimal.
Por Guilherme Mello* | Foto: Lula Marques
Inflação, crescimento, taxa de
câmbio, resultados fiscais, taxas de desemprego, produção industrial, todas
variáveis previamente quantificadas com base em elaborados modelos
econométricos, que no mais das vezes apenas transferem o passado recente para o
futuro, com o acréscimo de algumas pitadas de convicção política/ideológica do
formulador do modelo.
Pois vejamos o que as sábias vozes dos alquimistas midiáticos têm a nos dizer
alvorecer de 2018. O balanço de 2017 realizado pela maioria dos economistas
traz um saldo positivo: o fim da recessão, o controle inflacionário, a retomada
da geração de empregos, a melhoria na produção agrícola, a queda nos juros e a
excepcional valorização no mercado acionário. Desfilar essa série de dados, em
particular para aqueles que acreditam que a atual equipe econômica colocou o
país no rumo certo, parece evidência incontestável de um ano positivo para o
país.
O diabo, como de costume, mora nos detalhes. Se é verdade que o PIB parou de cair, marcando o fim do período recessivo, também é verdade que essa é a recuperação mais lenta dentre todas as crises já vividas pelo país. Comemorar 1% de crescimento após dois anos de queda acumulada de mais de 7% do PIB parece uma piada bem ao (mal) gosto de meus colegas de profissão. A “recuperação” do PIB não nos deixa nem um pouco próximos do nível que encontrávamos em 2014, demonstrando que a saída da recessão não significa o fim da depressão.
No campo inflacionário, comemoramos o erro. Sim, por que a inflação ficará abaixo do piso da meta inflacionária definida pelo governo, deixando claro que a política de queda dos juros e estimulo econômico foi tímida e tardia, prolongando indevidamente a recessão e aprofundando um processo deflacionário que já vinha em curso desde o início de 2016.
Ademais, boa parte da queda de preços se deveu à supersafra de alimentos, que até segunda ordem está mais sob controle do ministério de São Pedro do que de São Meirelles. Diante da queda de preço dos alimentos e da ausência de choques cambiais, caberia ao governo estimular a economia, ampliando o crédito e os investimentos públicos, mas o que se viu foi uma letargia ortodoxa que manteve o Brasil na lama por mais um ano, ainda disputando a liderança no ranking de juros reais do mundo.
Por fim, se é verdade que o mercado acionário, acessível a poucas pessoas, teve um ano de ganhos extraordinários da esteira do excesso de liquidez global, também é verdade que o emprego, o salário e a renda real tiveram desempenho pífio, na esteira da recuperação anêmica da economia nacional.
A relativa estabilização na taxa de desemprego (leva alta de 0,1% na comparação entre o trimestre encerrado em novembro de 2017 com o encerrado em novembro de 2016) esconde a deterioração do emprego formal, que atingiu a menor taxa em cinco anos, segundo dados da PNAD de dezembro/2017. A informalidade e a precarização das relações de trabalho, impulsionadas pela recente reforma trabalhista, dão a tônica de uma falsa recuperação da renda real, resultante mais de uma inflação anormalmente baixa do que de um real impulso no mercado de trabalho.
Diante deste quadro pouco animador para a grande maioria da população Brasileira, o que podemos esperar de 2018? Se nos valermos da praxe dos economistas de que o futuro costuma repetir o passado recente, as perspectivas não são nada alvissareiras. Mesmo que desconsideremos o fato de que 2018 será supostamente um ano eleitoral, costumeiramente marcado por profundas oscilações na confiança dos investidores e dos empresários, e o Estado estará encalacrado com sua auto imposta austeridade orçamentária, impedindo o avanço dos investimentos públicos e gastos sociais, a mera continuidade da lenta recuperação econômica (em grande medida puxada por fatores excepcionais, como a safra agrícola recorde e a liberação dos saldos inativos do FGTS) parece incapaz de dar tração ao crescimento e recuperar as condições de vida do brasileiro médio em um prazo razoável.
É possível que vejamos uma taxa de crescimento ligeiramente maior que a deste ano, a depender da dinâmica do setor externo e do consumo das famílias, mas nada que aponte para um novo ciclo de desenvolvimento, muito menos para qualquer mudança na esgarçada estrutura produtiva ou na injusta estrutura social brasileira. A inflação dificilmente ficará novamente abaixo da meta, em particular se houver alguma desvalorização cambial como consequência da incerteza eleitoral.
Por fim, o desemprego pode apresentar ligeira retração, mas baseado em empregos informais, precários e de baixa remuneração, seguindo o padrão verificado neste ano. Obviamente que todas estas “percepções” podem se alterar caso uma crise global, anunciada como iminente por alguns famosos economistas internacionais, se precipite em 2018, o que jogaria qualquer esperança de recuperação (mesmo que vagarosa) por água abaixo.
Se estas perspectivas parecem por demais pessimistas, cabe ressaltar que 2018 pode nos guardar surpresas positivas também. Se o estado de exceção que vivemos nos últimos anos não se aprofundar, é possível que presenciemos uma eleição democrática, onde diferentes projetos de país se confrontarão e poderão apontar novos rumos para a economia brasileira a partir de 2019. Será um ano de acerto de contas com nossos sonhos e possibilidades, que poderá determinar se, ao cabo, estaremos comemorando um feliz ano velho, com o prosseguimento da depressão e o aprofundamento da repressão, ou um verdadeiro feliz ano novo, com a retomada do desenvolvimento e da democracia em sua forma plena.
*Guilherme Santos Mello é professor do Instituto de Economia da Unicamp e pesquisador do Centro de Estudos de Conjuntura e Política Econômica (CECON-UNICAMP).Veja mais
-
A LUTA EM DEFESA DA IGUALDADE E CONTRA O RACISMO É UM COMPROMISSO HISTÓRICO DA CTB
Por Adilson Araújo, presidente da CTBO Brasil foi o último país do continente americano a abolir a escravidão, o que só ocorreu ...21/11/2024 -
MANIFESTO EM DEFESA DE UMA JORNADA DE TRABALHO MAIS HUMANA
Nós, dirigentes das centrais sindicais brasileiras, unimos nossas vozes ao clamor nacional pela redução da jornada de trabalho s ...18/11/2024 -
CTB DEFENDE FIM DA ESCALA 6×1 E REDUÇÃO DA JORNADA DE TRABALHO
Por Adilson Araújo*A redução da jornada é uma bandeira histórica da classe trabalhadora, que voltou à ordem do dia em todo o mun ...13/11/2024 -
CTB APOIA PEC QUE PROPÕE REDUÇÃO DA JORNADA DE TRABALHO E FIM DA ESCALA 6×1 NO BRASIL
A Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) manifesta total apoio à Proposta de Emenda à Con ...12/11/2024 -
CTB PROMOVE DEBATE SOBRE DESAFIOS GLOBAIS DA CLASSE TRABALHADORA NO G20 SOCIAL
A Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) marcará presença no G20 Social com uma atividade autogestionada de g ...11/11/2024 -
NOVEMBRO: MÊS DA CONSCIÊNCIA NEGRA
O dia 20 de novembro celebra a luta e a resistência do povo negro no combate à escravidão e ao preconceito. Criado a partir ...08/11/2024 -
IMPORTÂNCIA DO NOVEMBRO AZUL
O Novembro Azul é uma campanha pensada para a prevenção do câncer de próstata, mas é também voltada para a saúde masculina como ...08/11/2024 -
CTB PARTICIPA DE CERIMÔNIA EM HOMENAGEM A H? CHÍ MINH NO VIETNÃ E FORTALECE LAÇOS COM SINDICATOS VIETNAMITAS
No segundo dia de atividades no Vietnã, o presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Adilson Araúj ...07/11/2024 -
PRAZO PARA ATUALIZAÇÃO SINDICAL DE 2024 TERMINA EM DEZEMBRO
Data limite para sindicatos, federações e confederações atualizarem dados é em dezembro; atualização é obrigatória para evitar o ...06/11/2024 -
CTB PARTICIPA DE PLENÁRIA DA ALBA MOVIMENTOS SOCIAIS
A Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) participou da plenária nacional da Alba Movimentos Sociais Capítulo ...05/11/2024 -
PRESIDENTE DO SINDBORRACHA DESTACA EXPANSÃO DA VIPAL E GERAÇÃO DE EMPREGOS EM FEIRA
Na última semana, a VIPAL Borrachas lançou a pedra fundamental de sua primeira fábrica de pneus para caminhões e ônibus em Feira ...04/11/2024 -
LIVE SOBRE O PLANO CLIMA E CAMINHOS PARA A COP 30: UM CONVITE À REFLEXÃO E AÇÃO
No dia 7 de novembro de 2020, a Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), em parceria com diversas Centrais Sin ...01/11/2024 -
ESTUDO PROVA QUE TRABALHADOR PAGA MUITO MAIS IMPOSTO DE RENDA DO QUE MILIONÁRIOS
Enquanto brasileiros que ganham mais de R$ 4.664 mensais pagam 27,5% de IR, 0,2% da população com renda superior a R$ 83 mil men ...31/10/2024 -
DIA DO COMERCIÁRIO E COMERCIÁRIA: UMA LUTA HISTÓRICA E CONTÍNUA
No dia 30 de outubro, celebramos o Dia do Comerciário e Comerciária, uma data que simboliza a resistência e as conquistas de uma ...31/10/2024 -
CTB CONVOCA MOBILIZAÇÃO PARA O G20 SOCIAL NO RIO DE JANEIRO
A Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) convida todas as suas bases sindicais e entidades filiadas a se mobi ...30/10/2024 -
28 DE OUTUBRO: DIA DOS SERVIDORES E DAS SERVIDORAS PÚBLICAS - UM CONVITE À REFLEXÃO E À LUTA
Dia 28 de outubro, celebramos o Dia dos Servidores e Servidoras Públicas, uma data que convida à reflexão sobre a importância e ...29/10/2024 -
CTB REALIZA LIVE EM APOIO AO OUTUBRO ROSA
Na última quinta-feira (24) a Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) promoveu uma live dedicada ao Outubro Ro ...28/10/2024 -
AUDIÊNCIA PÚBLICA: PLANO "NOVA INDÚSTRIA" DO GOVERNO FEDERAL SERÁ NA PRÓXIMA QUARTA (30)
Menos Juros! Mais Empregos! Mais Investimentos Públicos!No dia 30 de outubro, quarta-feira, às 16h, a Câmara dos Deputa ...25/10/2024 -
CTB PARTICIPA DE GREVE NACIONAL PELA DEFESA DAS CONDIÇÕES DE TRABALHO DOS PORTUÁRIOS NO BRASIL
Na terça-feira (22), trabalhadores portuários de todo o Brasil realizaram uma paralisação nacional de 12 horas, mobilizando cerc ...23/10/2024 -
A QUEM INTERESSAM OS ATAQUES À CARTEIRA DE TRABALHO?
Quem disse que os motoristas da Uber e os entregadores do iFood consideram os direitos trabalhistas inúteis ou descartáveis? Qual ...23/10/2024