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22/12/2025

EMPREGO CRESCE, SINDICALIZAÇÃO REAGE E DESAFIOS DO TRABALHO SEGUEM NA PAUTA

Com quase 5 milhões de vagas criadas desde 2023, dirigentes sindicais destacam avanços do governo Lula, retomada da organização coletiva e alertam para precarização, juros altos e novas armadilhas patronais.

Por Cezar Xavier

O mercado de trabalho brasileiro vive um ciclo de recuperação desde o início do governo Lula, com a criação de quase 5 milhões de empregos formais entre janeiro de 2023 e setembro de 2025, segundo dados do Novo Caged. Para o vice-presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), René Vicente, esse movimento recoloca o trabalho no centro do projeto de desenvolvimento nacional.

“O governo Lula tem buscado avançar na geração de empregos com carteira assinada por meio de programas estruturantes, como o PAC, a Nova Indústria Brasil e o impulso à construção civil”, afirma em entrevista ao Portal Vermelho. De acordo com ele, os dados confirmam um dos menores patamares de desemprego da série histórica, o que representa uma vitória concreta para a classe trabalhadora.

Programas públicos e retomada do mercado interno

Os números do governo corroboram a avaliação sindical. Apenas em outubro de 2025, o país gerou 85.147 postos formais, puxados sobretudo pelos setores de Serviços (+82.436 vagas) e Comércio (+25.592). No acumulado de janeiro a outubro, foram 1,8 milhão de novos vínculos, crescimento de 3,8%.

A retomada das obras do PAC, a ampliação do crédito, a valorização do salário mínimo e políticas de incentivo à indústria e aos pequenos negócios criaram um ambiente mais favorável à geração de emprego e renda, com impactos diretos no consumo e na atividade econômica.

Sindicalização volta a crescer

Um dos efeitos mais relevantes desse novo cenário é a reversão da queda histórica da sindicalização. Segundo René Vicente, após anos de retração, a taxa voltou a subir, passando de 8,4% para 8,9% no último trimestre, o que representa cerca de 840 mil novos trabalhadores sindicalizados.

“Isso demonstra que o trabalhador quer buscar sua representação sindical e percebe que voltou a existir espaço de diálogo”, avalia. Para ele, a valorização do emprego formal fortalece não apenas a renda, mas também a organização coletiva e a capacidade de luta por direitos.

Precarização e rotatividade seguem como entraves

Apesar dos avanços, René alerta que a precarização continua sendo uma marca estrutural do mercado de trabalho brasileiro. Um dos principais problemas é a alta rotatividade. Em 2024, por exemplo, houve cerca de 25,5 milhões de admissões e 23,8 milhões de demissões, resultando em saldo positivo de apenas 1,69 milhão de empregos.

“Essa rotatividade debilita a organização dos trabalhadores. Eles não têm tempo de se identificar, se sindicalizar e lutar por melhores condições”, afirma. Para o dirigente, o desafio agora é avançar na criação de empregos de qualidade, com maior estabilidade, salários mais altos e presença em setores de maior densidade tecnológica.

Salários ainda baixos e impacto dos juros

Outro ponto crítico destacado pelo movimento sindical é o nível salarial. O salário médio real de admissão chegou a R$ 2.304,31 em outubro, com crescimento real de 2,4% em um ano. Ainda assim, René considera o valor insuficiente. “A grande maioria dos empregos gerados tem renda muito baixa. Precisamos avançar para garantir salários dignos.”

Nesse contexto, a política monetária é vista como obstáculo central. Com a taxa Selic em 15% ao ano, uma das mais altas do mundo, o investimento produtivo é desestimulado. “Nenhum industrial vai investir com juros nesse patamar. Isso breca o desenvolvimento, a geração de empregos e a distribuição de renda”, critica.

O ministro do Trabalho, Luiz Marinho, reforça essa leitura ao afirmar que os juros elevados já provocam desaceleração dos investimentos e cobrou maior sensibilidade do Banco Central para destravar o crescimento.

Trabalho por aplicativo e novos direitos

A precarização também se manifesta de forma intensa no trabalho por aplicativos. René defende a regulamentação do setor, com reconhecimento de vínculo empregatício, aplicação da CLT e garantia de direitos previdenciários. “Esses trabalhadores atuam 12 horas por dia, seis dias por semana, sem férias, 13º ou aposentadoria. Isso é insustentável.”

Segundo ele, centrais sindicais acompanham projetos no Congresso e ações no STF que discutem o vínculo trabalhista, pressionando por uma regulamentação que assegure proteção social, licença-maternidade e aposentadoria digna.

Do desmonte à reconstrução institucional

Para Márcio Ayer, presidente do Sindicato dos Comerciários do Rio de Janeiro, Miguel Pereira e Paty do Alferes, o atual momento representa um ponto de inflexão após anos de retrocesso. “Um sopro novo atravessa fábricas, campos e lojas do Brasil. É o fim de seis anos de desmonte, precarização e criminalização do movimento sindical”, diz ele em entrevista ao Portal Vermelho.

Ele lembra que a reforma trabalhista de 2017, a terceirização irrestrita e o esvaziamento do Ministério do Trabalho fragilizaram sindicatos e ampliaram a informalidade. A partir de 2023, o governo atuou em duas frentes: medidas emergenciais, como a valorização do salário mínimo e a isenção do IR até R$ 5 mil, e a reconstrução institucional, com fiscalização, combate ao trabalho escravo e retomada do diálogo social.

Vitórias parciais e riscos à frente

Ayer alerta, porém, que os avanços não podem gerar acomodação. A luta contra a escala 6×1, por exemplo, conquistou a adoção da 5×2 em algumas empresas, mas manteve jornadas de 44 horas semanais, concentrando a exploração em menos dias. “Trocaram uma gaiola por outra um pouco maior, mas ainda é uma gaiola”, critica.

Ele também vê com preocupação a tentativa de vincular a redução da jornada para 40 horas à ampliação da pejotização. “É uma armadilha: concedem a redução em troca da precarização total, o que anula qualquer ganho real.”

Cerco jurídico e financeiro aos sindicatos

Além das disputas no local de trabalho, o movimento sindical enfrenta um cerco institucional. De um lado, propostas que ameaçam extinguir a Justiça do Trabalho e o Ministério Público do Trabalho; de outro, ataques ao financiamento sindical, como a tentativa de inviabilizar a contribuição assistencial.

“A tática é clara: asfixiar financeiramente os sindicatos para enfraquecer sua capacidade de negociação”, afirma Ayer. Pesquisas recentes indicam, contudo, que 68% dos trabalhadores consideram os sindicatos fundamentais, sinalizando que o problema não é rejeição social, mas ofensiva patronal organizada.

Autonomia, organização e próximos passos

Para os dirigentes, o crescimento da sindicalização é apenas o início. O desafio central é transformar esperança em força organizada, com sindicatos autônomos, financeiramente sustentáveis e enraizados na base.

“A proximidade com um governo aliado é uma conquista tática, mas a pressão direta sobre o patrão é insubstituível”, resume Ayer. A agenda inclui a redução da jornada para 40 horas, a regulamentação do trabalho por aplicativo, a defesa da Justiça do Trabalho e a valorização permanente do emprego e da renda.

Com quase 49 milhões de vínculos formais no país, os indicadores mostram que o Brasil voltou a crescer. Para o movimento sindical, a tarefa agora é garantir que esse crescimento se traduza em trabalho digno, direitos ampliados e distribuição de renda, consolidando um novo ciclo de desenvolvimento com justiça social.

Fonte: Portal Vermelho

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