Informativo
A gênese golpista do PSDB e PMDB que explica a crise tucana
"Essa gente que aí está não acredita nos desígnios de Deus. Acha que é a dona do país, com a sua prepotência." Assim resumiu o ex-presidente Itamar Franco (PMDB), falecido em 2011, em entrevista à Folha de São Paulo em maio de 1998, ao se referir sobre o governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e o uso da máquina para garantir a reeleição tucana em 1998.
Atualmente, os partidos vivem
situação inversa. Michel Temer chegou à presidência da República graças a um
golpe contra o mandato de Dilma Rousseff liderado pelos tucanos, tendo o senador
Aécio Neves (MG) como encabeçador do movimento e fiador do governo Temer.
Os tucanos vivem uma crise interna que rachou a legenda entre os que defendem a
permanência da legenda no impopular governo Temer e o desembarque imediato com
entrega dos cargos. O partido que promoveu o golpe na sanha pelo poder, agora
enfrenta as consequências trágicas do seu flerte com o fascismo.
Denunciado duas vezes pela Procuradoria-geral da República, Temer engavetou a denúncia utilizando o método bem conhecido por ele: o “toma-lá-dá-cá”, com verbas de emendas parlamentares e outros investimentos públicos. A votação contou com os votos de parte da bancada tucana, liderada por Aécio.
O troco veio nas convenções regionais da legenda. Em São Paulo, principal reduto tucano, a convenção estadual realizada no domingo (12), foi sob os gritos de "fora, Aécio".
"Ele deveria colocar o pijama e voltar para a casa", disse à imprensa Pedro Tobias, reconduzido à presidência do diretório paulista da sigla, sobre Aécio Neves.
A convenção estadual aconteceu depois que Aécio reassumiu a presidência nacional da legenda para destituir o senador Tasso Jereissati (CE) da interinidade após ele anunciar ser candidato à presidente da legenda. Aécio, que indicou o ex-governador de São Paulo Alberto Goldman para o cargo, está afastado da presidência desde a divulgação das gravações com empresários da JBS que revelaram o pagamento de R$ 2 milhões.
A decisão de Aécio transformou o racha em cratera. A ala que apoia o senador chamou a medida de um golpe articulado por Aécio e Temer, com apoio de ministros tucanos. O vice-presidente do Senado Cássio Cunha Lima (PSDB-PB) criticou o ato de Aécio e disse: ”É uma decepção atrás da outra".
Já o ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes Ferreira, que defende a permanência no governo, não escondeu o impacto da crise. “Desse jeito, vamos entregar a Presidência para o Lula, em 2018”, disse Aloysio, se baseando nas pesquisas de intenção de votos que mostram Lula como preferido.
“Engana-se quem pensa que será carregado nos braços do povo por ter desembarcado do governo. O PSDB será julgado por suas ações concretas em benefício do país. Mas como fazer o discurso da razão com o partido em pé de guerra?”, previu ele.
Para o filósofo José Arthur Giannotti, um dos gurus tucanos, disse em recente entrevista à Folha de S. Paulo que após o golpe, “o PSDB morreu".
"Quer que eu fale de defuntos? O PSDB não é mais um partido. Funcionava como um partido quando as decisões eram tomadas em bons restaurantes e todos estavam de acordo. Agora isso não há mais”, afirmou Giannotti.
A ALIANÇA
O PMDB, que hoje é a causa do pesadelo tucano, já vivenciou a mesma guerra interna, no entanto, provocado pelo PSDB. Em 1998, Itamar denunciou o governo de FHC à Justiça Federal num processo aberto para apurar o uso da máquina na convenção do PMDB. O ex-presidente apontava que o governo tucana utilizou o “toma-lá-dá-cá” na convenção, e que Estados receberam verbas que não estavam previstas para garantir que o PMDB não tivesse candidato próprio nas eleições gerais.
Temer, que na época era o principal operador do PSDB dentro do PMDB, ocupava a presidência da Câmara dos Deputados, e na convenção do seu partido decidiria sobre a candidatura própria, o seu gabinete foi a porta de entrada dos bate-paus que ficaram conhecidos como os “amarelinhos”, contratados pelos governistas para agredir a militância durante a Convenção da sigla que se realizava na Câmara.
Temer boicotava o seu partido desde 1994, quando a legenda decidiu lançar o ex-governador Orestes Quércia como candidato à presidência, e ele apoiou FHC. Como prêmio, ganhou o cargo de líder do governo na Câmara, garantindo a implantação da agenda de desmonte do Estado.
Já os tucanos fundaram o PSDB sob o argumento de “combate ao fisiologismo” do PMDB, mas o real objetivo era barrar a candidatura de Ulysses Guimarães, então presidente da Assembleia Nacional Constituinte de 1988. Fernando Henrique Cardoso, Franco Montoro, Mário Covas, José Richa, José Serra, Tasso Jereissati foram alguns dos peemedebistas que saíram da sigla para fundar o PSDB, se colocando como uma “nova alternativa” no cenário nacional.
A briga desses pré-tucanos dentro do PMDB sempre foi contra o campo mais nacionalista da legenda, que defendia um programa de fortalecimento da indústria e de desenvolvimento nacional. Lançaram Mário Covas como candidato na eleição de 1989, ficando em quarto lugar na disputa, à frente de Ulysses e atrás de Brizola (PDT). Naquele ano, Collor (PRN) e Lula (PT) disputaram o segundo turno.
“O partido [PSDB] virou, boa parte dele, rigorosamente igual ao PMDB", disse Luiz Carlos Bresser-Pereira, ex-ministro dos governos José Sarney e Fernando Henrique Cardoso e fundador do PSDB.
Para Bresser-Pereira, que deixou a legenda em 2011 criticando o deslocamento do partido para a centro-direita, afirmou que a legenda tucana “é o verdadeiro sucessor da UDN no Brasil e, portanto, é um partido golpista”.
“O PMDB não é nada, não é um partido. É um conjunto de pessoas, algumas até muito boas, e outras péssimas. Já o PSDB é um partido, como o PT, mas é um partido da direita e da direita absolutamente antinacional e dependente”, salientou o ex-ministro.
A julgar pela trajetória, Bresser tem razão, pois historicamente, a cúpula do PSDB e PMDB, que hoje se enfrentam, já foram aliadas e sempre utilizou o modus operandi do "toma-lá-dá-cá" para intervir nas deidões de seus partidos, tendo a mesma gênese golpista e atuando conjuntamente para defender intereses alheios ao ddo povo brasileiro.
Fonte: Dayane Santos do Portal Vermelho| Foto: ReproduçãoVeja mais
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