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Mauro Vieira, Lula e Celso Amorim na reunião dos sherpas do Brics (foto de Ricardo Stuckert, PR) Mauro Vieira, Lula e Celso Amorim na reunião dos sherpas do Brics (foto de Ricardo Stuckert, PR)
28/07/2025

BRASIL DESAFIA TRUMP E REFORÇA COMPROMISSO COM OS BRICS, DIZ CELSO AMORIM

Em entrevista ao Financial Times, assessor especial de Lula critica interferência dos EUA, defende diversificação das parcerias internacionais e nega viés ideológico do bloco.

Por Cezar Xavier

O assessor especial de Política Externa da Presidência da República, Celso Amorim, afirmou que o Brasil está decidido a “dobrar a aposta” no fortalecimento dos Brics, em resposta direta às ameaças do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor tarifas punitivas de até 50% a países que se alinhem ao bloco, considerado pelo presidente “antiamericano”.

Em entrevista ao jornal britânico Financial Times, publicada neste domingo (27), Amorim disse que as investidas do ex-presidente dos EUA contra o Brasil estão, paradoxalmente, reforçando a determinação brasileira de ampliar laços com os Brics e outros parceiros globais.

“Queremos ter relações diversificadas e não depender de nenhum país”, declarou o ex-chanceler, ao defender maior aproximação com Europa, América do Sul e Ásia, além da continuidade dos esforços de integração sul-americana liderados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Críticas a Trump: “Nem a União Soviética faria isso”

Amorim reagiu com indignação às declarações recentes de Trump, que condicionou a retirada de tarifas à interrupção do julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, acusado de tramar um golpe de Estado no Brasil. Para ele, trata-se de uma interferência inaceitável nos assuntos internos do país.

“A interferência de Trump é algo que nem mesmo nos tempos coloniais se via. Não acho que nem a União Soviética teria feito algo assim”, afirmou.

O diplomata foi ainda mais incisivo ao descrever o comportamento do republicano:

“Trump não tem amigos, nem interesses, apenas desejos. Isso é uma ilustração de poder absoluto.”

Diversificação estratégica: Brics, Mercosul e Canadá

Durante a entrevista, Amorim rejeitou a ideia de que os Brics sejam um bloco ideológico, argumentando que a aliança — composta por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, além de novos membros como Irã e Egito — tem como foco defender uma ordem mundial multilateral diante da crescente postura isolacionista dos EUA.

Com o Brasil na presidência rotativa do bloco em 2025, o assessor reafirmou que o governo Lula buscará expandir as relações econômicas e diplomáticas com outros centros estratégicos.

Ele destacou ainda o interesse do Canadá em negociar um acordo de livre comércio com o Brasil e voltou a defender a ratificação do acordo entre Mercosul e União Europeia.

“Se a União Europeia fosse inteligente, ratificaria o acordo não só pelo ganho econômico imediato, mas para garantir mais equilíbrio nas relações internacionais”, argumentou.

China sim, mas com cautela

Embora tenha reconhecido que a China é o maior parceiro comercial do Brasil, com quase US$ 100 bilhões importados em 2024, Amorim negou que o país esteja apostando no enfraquecimento dos EUA em favor de Pequim.

“Não é nossa intenção que a China se beneficie das tarifas de Trump. Não buscamos um vencedor, e sim uma rede de relações equilibrada”, explicou.

Lula rejeita imperialismo: “Trump não é imperador do mundo”

A entrevista de Amorim também repercute declarações recentes do presidente Lula, que criticou as tentativas de Trump de interferir na política interna brasileira.

“Trump não foi eleito para ser imperador do mundo. Se tivesse feito no Brasil o que fez no Capitólio, estaria sendo julgado também”, disse Lula.

Com o Brasil cada vez mais vocal no cenário internacional e disposto a confrontar o unilateralismo norte-americano, a entrevista de Amorim marca um posicionamento claro da diplomacia brasileira em favor do multilateralismo, da soberania nacional e da integração regional.

A nova configuração dos Brics — e a firme resposta de Brasília — prometem acirrar os debates geopolíticos no período eleitoral dos EUA e em um mundo cada vez mais multipolar.

Fonte: Portal Vermelho

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