Informativo
EVANGÉLICOS LANÇAM NOVA CAMPANHA EM DEFESA DA DEMOCRACIA
Conforme a eleição se aproxima e o clima de violência
política atinge até igrejas evangélicas, setores progressistas religiosos se
manifestam em defesa da democracia
Um policial militar atirou contra um fiel
durante briga política em uma Igreja Congregação Cristã no Brasil,
em Goiânia, no último dia primeiro. Os disparos ocorreram após discussão a
respeito de uma circular sobre as eleições distribuída pela igreja, com
orientações de votos. Os reflexos da violência política estimulada pelo
bolsonarismo na sociedade chegaram às igrejas e têm gerado reações de diversos
setores em defesa da democracia e contra o clima de ódio.
Segunda-feira, 12, foi a vez do Conselho
Nacional de Igrejas Cristãs (Conic) se manifestar lançando a
campanha #SouEvangelico e Acredito na Democracia, em parceria
com a revista Zelota. A live de lançamento contou com a participação da
reverenda Ana Ester, o reverendo Bob Luiz Botelho, o pastor Eliel Batista, o
cantor adventista Leonardo Gonçalves, a líder jovem Luliane Santos e a pastora
Odja Barros. O Conic tem como membros a Igreja Presbiteriana Unida
(IPU), Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB),
Igreja Episcopal Anglicana do Brasil (IEAB), Igreja Católica Apostólica
Romana (ICAR), Aliança de Batistas do Brasil (ABB).
Uma das grandes preocupações apresentadas no
evento foi com a dissociação cada vez mais frequente entre evangélicos e
democracia. Muitos se perguntaram que imagem os evangélicos estão projetando na
sociedade ao se associar automaticamente aos valores do bolsonarismo.
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com evangélicos: Ninguém deve usar o nome de Deus em vão
Segundo a campanha, “ao contrário do que
ocorre hoje, campanhas eleitorais devem viabilizar espaços de diálogo e debates
sobre o Brasil que temos e o Brasil que queremos. Deveriam aprofundar as
questões estruturais que precisam ser transformadas, para que nossa democracia
de 37 anos se consolide, garantindo maior participação e representação,
diminuindo privilégios, superando o racismo e garantindo a liberdade religiosa
a todas as pessoas, sem exceções”.
Esse desvirtuamento do ambiente democrático
tem ocorrido, segundo a campanha, porque as coligações eleitorais mobilizam
discursos de pânico moral que impulsionam ódio como estratégia de disputa
eleitoral. A luta pelo desarmamento da sociedade civil é mencionada como uma
bandeira de combate aos altos índices de violência na sociedade.
A campanha #SouEvangelico e Acredito na
Democracia tem como objetivo ser um contraponto aos discursos e frentes
fundamentalistas e antidemocráticas, dialogando com o público evangélico e
afirmando as afinidades entre fé cristã e democracia.
Leia também: Evangélicos
esperam diálogo com Lula para reduzir “pânico moral”
As pessoas cristãs foram convidadas a
reafirmar a segurança das urnas eletrônicas; o respeito ao resultado das eleições;
a importância de votar em grupos sub-representados para que as instituições
políticas reflitam melhor a composição da sociedade brasileira; e que a Igreja
não seja espaço para campanha político-eleitoral.
LIVE DE
LANÇAMENTO
A reverenda da Igreja da Comunidade
Metropolitana, Ana Ester, citou Marilena Chauí, ao defender que a democracia é
o único regime que considera o conflito legítimo. Ela considera que a escalada
fascista tem alvos concretos e atinge os próprios evangélicos.
Bob Luiz Botelho, dos Evangélicos pela
Diversidade, defende que se em vez de proibir “fazer arminha no púlpito”,
prefere perguntar por que o crente quer fazer isso. Para ele, é importante
desenvolver a autonomia de reflexão para que se assuma a responsabilidade sobre
o que faz. Ele acusou uma mudança de mentalidade em que “bandido bom era
bandido convertido”, e, agora, se defende a morte até de quem não professa a
mesma fé.
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a rejeição dos evangélicos a Bolsonaro, diz pesquisa
Eliel Batista, da Frente Interreligiosa Dom
Paulo Evaristo Arns, disse que o papel na democracia não é impor um estado
teocrático com benefício a uns poucos, mas garantir justiça social e direitos
para todos.
Leonardo Gonçalves criticou as narrativas de
setores que se dizem perseguidos, “quando temos que admitir que são os
perseguidores”. Ele criticou a militarização com toques de guerra espiritual
para eliminar o inimigo. “Vitória na democracia não significa silenciar o
derrotado. Estão fazendo isso em nome de Deus, com uso de símbolos e linguajar
que me são caros”. O cantor acrescentou que a bancada evangélica foi formado na
luta pelo estado laico contra o estado católico. “Hoje, o estado laico é
interesse de minorias”, completou.
A jovem liderança evangélica Luliane Santos
relatou como observa as pessoas “mentindo a rodo” na igreja para atacar a
candidatura de Lula. Para ela, a imagem do evangélico como alguém da paz que
defende a justiça social se perdeu. “Que imagem estamos deixando?” Ela ainda
citou que 40% da violência doméstica contra mulheres envolve evangélicas, algo
que só aumenta com a liberação do porte de armas.
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cristãos denunciam fake news envolvendo religião e política
A pastora Batista, Odja Barros, disse que
acha oloroso ver o evangelho sendo instrumentalizado para práticas de morte.
“Eu aprendi a prática democrática dentro da igreja. Minha ‘conversão à
democracia’ foi um encantamento pelo estímulo que a igreja dava ao voto, ao
poder e à fala de todos. Passei a olhar para fora e ver a importância da
democracia”.
Hoje, ela considera que, em tão poucos anos,
o ambiente político soa como traição a sua historia e ao evangelho. Ela lembrou
que os protestantes plantaram a semente de democracia com Martinho Lutero.
Parafraseando o lema da campanha, ela concluiu que acredita na democracia,
sobretudo, porque é evangélica.
Ela ainda lamentou como mulheres evangélicas,
como a esposa de Bolsonaro, são instrumentalizadas politicamente para defender
privilégios de alguns segmentos religiosos. “A pauta de costumes não é cortina
de fumaça, mas a própria fogueira. A mulher bela, recatada e do lar não existe,
mas aprisiona as outras mulheres e mascara a diversidade feminina”,
afirmou.
O colaborador da revista Zelota, Andre
Kanasiro, disse que o papel dos evangélicos não é “abanar o rabo e fingir de
morto para ganhar isenção fiscal, mas ajudar quem está vulnerável”.
MARINA
SILVA
Outra vertente importante de apoio evangélico
contra o bolsonarismo foi a declaração de apoio formal da ex-ministra do Meio
Ambiente Marina Silva à candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Ela reconheceu as discordâncias em relação ao PT, mas defende que o cenário
atual de “democracia ou barbárie” pede uma união entre as correntes políticas e
ideológicas próximas.
A aproximação traz força para a campanha de
Lula em duas frentes: na política ambiental e junto ao eleitorado evangélico.
Em relação aos evangélicos, Marina — que professa a fé pentecostal — criticou
as mentiras disseminadas contra o petista de que ele fechará igrejas caso
eleito.
“SOMOS
UM PELA DEMOCRACIA, SOMOS TODOS PELO BRASIL”
Já a Frente de Evangélicos pelo Estado de
Direito foi mais direta e declarou apoio ao candidato Lula nas eleições de
outubro, diante “das ameaças diuturnas das forças reacionárias sustentadas pelo
governo federal e pelo próprio Bolsonaro”. O uso político da religião
promovido por Bolsonaro e pela primeira-dama Michelle
Bolsonaro, usando a bandeira evangélica, provocou uma reação da ala
progressista de grupos protestantes.
Na véspera do 7 de setembro, líderes
evangélicos de todo o Brasil lançaram a campanha em apoio à democracia e
ao Estado Democrático de Direito. A principal iniciativa da campanha “Somos UM
pela democracia, somos todos pelo Brasil” é a divulgação de uma carta à
população.
Leia também: Pânico
moral vai se intensificar nas eleições, diz especialista em religiões
O documento já contava com a assinatura de
grandes líderes evangélicos do campo democrático, como a pastora Viviane Costa,
da Assembleia de Deus do Rio de Janeiro, o pastor José Marcos, da Batista de
Pernambuco, e a bispa Marisa de Freitas, emérita da Igreja Metodista.
As lideranças revelam que têm visto de perto
os efeitos nefastos da fome e do desemprego em suas comunidades religiosas, por
isso consideram estas pautas prioritárias na disputa eleitoral. Eles também
criticaram o uso político da religião e de discursos violentos e autoritários
adotados por pastores de extrema direita.
Além da divulgação da carta, o grupo irá
realizar eventos no Rio de Janeiro, Brasília, São Paulo e Recife, para divulgar
os posicionamentos baseados no documento.
Fonte:
Portal Vermelho
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