Informativo
A IMPRENSA PRECISA MUDAR O DISCURSO: NINGUÉM FALA PELOS EVANGÉLICOS
Por
Magali Cunha*
O cenário político está atiçado nestes dias
por vários episódios. No início desta semana, voltou à cena o caso do
preenchimento da vaga de ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), para a
qual foi indicado o pastor presbiteriano ex-ministro da Advocacia Geral da
União e da Justiça do atual governo, André Mendonça. Trata-se do cumprimento da
promessa feita pelo presidente Jair Bolsonaro, em 2019, de indicar um ministro
“terrivelmente evangélico”.
Ocorre que a promessa esbarrou na resistência
a Mendonça da parte do presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ)
do Senado, Davi Alcolumbre (DEM/AP), responsável pela convocação da sabatina
que precede a votação do nome no plenário. O senador quer que Bolsonaro retire
o nome e faça outra indicação ao STF, ao que o presidente se recusa.
Além de parlamentares aliados de Bolsonaro,
lideranças evangélicas, interessadas no cumprimento da promessa, vêm
pressionando Alcolumbre e outros senadores. Mendonça também tem atuado na busca
de apoio à sua indicação. O pastor tem participado de cultos em igrejas
pentecostais, cujas lideranças declaram apoio ao governo. Ele chegou a dizer em
evento na Assembleia de Deus Madureira, no Rio de Janeiro: “Os senhores são
bispos da Assembleia de Deus, mas, para além disso, Deus os constituiu bispos
sobre a minha vida (…). Vocês têm autoridade espiritual sobre a minha
vida (…). Vocês é quem são autoridades sobre mim. Eu sou um
discípulo”.
O presidente da Assembleia de Deus Vitória em
Cristo, Silas Malafaia, que já havia se reunido com o presidente do Senado,
Rodrigo Pacheco (DEM/MG), junto com outros pastores, em setembro, resolveu
divulgar um vídeo na segunda-feira 11. A peça foi dirigida “ao povo abençoado
do Brasil”. Nele, Malafaia acusa ministros do governo federal, Ciro Nogueira
(Casa Civil), Flávia Arruda (Secretaria de Governo) e Fábio Faria
(Comunicações) de conspirarem contra Bolsonaro e os evangélicos na busca de
nome alternativo a Mendonça.
A ação dos ministros foi relatada em
reportagem publicada no domingo, 10 de outubro, que registrava que há
articulações entre ministros e senadores para substituir a indicação de
Mendonça por outro presbiteriano, o presidente do Conselho Administrativo de
Defesa Econômica (CADE) Alexandre Cordeiro de Macedo.
Na gravação, o pastor Malafaia criticou a
busca por “pseudo-evangélicos” para a vaga e chamou Alcolumbre de
“inescrupuloso”, cobrando explicações sobre suposta troca de favores do senador
com um desembargador do Amapá. No tom raivoso que lhe é peculiar, Malafaia
afirma no vídeo: “Ninguém vai enganar a comunidade evangélica. Não adianta jogo
debaixo dos panos para botar alguém de interesse, porque não vai dar certo. Se
barrarem André Mendonça, vai ter um outro que seja terrivelmente evangélico. E
não serão vocês que dirão se A ou B é terrivelmente evangélico”.
Não é de hoje que o pastor Malafaia encarna o
papel de porta-voz dos evangélicos. É uma estratégia política dele que lhe gera
dividendos entre uma parcela deste grupo religioso e também de outros que têm
afinidade com o seu discurso.
A questão que permanentemente se coloca não é
a performance política de Malafaia, o alinhamento dele ao governo Bolsonaro ou
a ressonância de seu discurso. O que precisa ser intensa e amplamente criticada
é a cobertura da imprensa que segue credenciando o pastor como porta-voz dos
evangélicos, o que é ilegítimo e enganoso.
Pesquisei a cobertura noticiosa do vídeo do
pastor. Ele repercutiu em quase todos os grandes jornais e portais de notícias
e também em espaços noticiosos digitais de esquerda e de direita. Em
absolutamente todos, Malafaia fala sozinho, pelos evangélicos, com acréscimos
de aspas a evangélicos que reproduzem o que ele diz: deputados federais
Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ) e Marco Feliciano (Pode-SP). Não há matéria
jornalística sequer que ouça outras vozes evangélicas para reproduzir a
pluralidade do segmento e revelem o que outros grupos e lideranças pensam sobre
a indicação Mendonça e a disputa política em torno dela.
Temos neste fenômeno de comunicação o que
transparece ser um misto de ignorância de jornalistas com expressão imaginária
da religião dominante e afinidade ideológica eletiva. Explico.
A defasagem de jornalistas na cobertura de
religião é significativa. Não há formação nas escolas de jornalismo sobre o
tema, muitos profissionais não se interessam em pesquisar e aprender e acabam
cometendo equívocos frequentes. A resistência ao aprendizado pode advir, boa
parte das vezes, do próprio imaginário. Jornalistas são pessoas que têm visões
de mundo, formação cultural, histórias de vida, nas quais está ou não a
religião. Sua forma de cobrir um tema referente a religião terá a interferência
deste imaginário sobre grupos religiosos podendo ser embasado em uma visão
positiva, negativa, profunda, rasa, apoiadora, resistente.
Muita gente é formada no imaginário da
religião dominante do Brasil, a Católica. A colonização religiosa é forte
nestas terras e muita gente imagina qualquer outra religião a partir do que
conhece do Catolicismo no qual foi formado direta ou indiretamente. Afinal, o
Brasil parou ontem para celebrar uma santa, católica, e mesmo quem tem outra
religião é obrigado a ter feriado. Portanto, muitos jornalistas imaginam
evangélicos a partir da formação católica direta ou indireta que recebem. Não
admitem uma religião que não tenha um Papa, um líder que hierarquicamente a
conduz. Por isso, credenciam o pastor Malafaia.
Por fim, há o elemento da afinidade
ideológica. Se Bolsonaro, Feliciano, Damares, Malafaia representam uma parcela
conservadora da sociedade brasileira, é possível reconhecer uma afinidade entre
estes líderes e quem produz e emite conteúdo nas mídias. Isso explicaria a
indiferença do noticiário às controvérsias em torno de Malafaia entre os
próprios evangélicos. Malafaia fala sozinho nas notícias.
Se o conservadorismo evangélico tem suas
marcas na política com as reações aos avanços no campo dos direitos sexuais e
reprodutivos e das comunidades tradicionais, o conservadorismo midiático se
revela na forma como o noticiário despreza avanços nas relações políticas com
os movimentos sociais e reage à concessão de direitos às classes
desprivilegiadas, atuando pela manutenção do status quo. Identificam-se,
portanto, afinidades eletivas entre o jornalismo veiculado pelas grandes mídias
e as lideranças evangélicas em destaque na política. O destaque midiático a
Malafaia e o silenciamento da dissonância entre evangélicos podem ser
compreendidos por este viés.
Evangélicos não têm representantes,
diferentemente dos católicos que têm uma igreja centralizada. Evangélicos são
fragmentados e plurais. Dado o contexto de força política do grupo hoje, muitos
líderes falam em nome do segmento e os beneficiados politicamente com essa
fala, como é o caso do mandatário brasileiro, reverberam isso. Fica-se, então,
com o discurso hegemônico, neste caso o conservador.
Duas urgências emergem destes elementos
apontados aqui: 1) os evangélicos que têm uma visão crítica do uso político da
fé cristã precisam assumir suas raízes protestantes e erguer sua voz; 2) que os
produtores de notícias superem o engano da apresentação dos evangélicos como um
grupo homogêneo e rechacem tendências unificantes de um segmento formado por
uma expressiva variedade de grupos, tornando nítidas e notórias as diferentes
posturas e projetos deste segmento no espaço público.
*Magalil Cunha é jornalista e doutora em Ciências da Comunicação. É colaboradora do Conselho Mundial de Igrejas e colunista da CartaCapital
Fonte: Portal Vermelho
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