Informativo
O GOLPE MILITAR DE 1964 FOI UMA TRISTE PÁGINA NA HISTÓRIA DO BRASIL
Por Adilson
Araújo*
Como era de se esperar, o novo ministro da
Defesa de Bolsonaro, general Walter Braga Netto, publicou terça-feira (30)
“Ordem do Dia Alusiva ao 31 de março de 1964? em que enaltece o golpe
perpetrado pelos militares no dia 1º de Abril de 1964 com apoio dos EUA, das
elites empresariais brasileiras e da mídia burguesa.
Lembremos que, 50 anos depois, a Rede Globo
fez um editorial simulando uma autocrítica e pedindo desculpas pelo apoio que
desde o primeiro até o último dia nunca negou ao regime instalado pelos
golpistas. Em 2016, o monopólio midiático da família Marinho apoiou o golpe de
Estado contra Dilma e contribuiu com a farsa armada pela Lava Jato, em parceria
com os EUA, para condenar e prender Lula, abrindo caminho para a eleição de
Bolsonaro, que recompensou a República de Curitiba nomeando seu comandante,
Sergio Moro, para o Ministério da Justiça.
O general Braga opera uma flagrante inversão
dos fatos ao definir como “movimento” aquilo que evidentemente foi um golpe de
Estado contra a democracia e o povo, que depôs um presidente legítimo e,
posteriormente, fechou o Congresso Nacional e instalou uma junta militar no
comando do país. O autorismo chegou ao ápice com a edição do famigerado Ai-5,
em dezembro de 1968.
Os opositores, tratados como inimigos
mortais, foram duramente perseguidos pelo regime, presos, torturados nos porões
da ditadura e exilados. Centenas de pessoas foram assassinadas ou
misteriosamente “desaparecidas”. Tivemos mandatos cassados no Parlamento e nas
organizações democráticas e populares, intervenções nos sindicatos, censura à
imprensa, assassinato de operários e intelectuais, interdição de debates e da
livre expressão do pensamento.
AUTORITARISMO
E REPRESSÃO A RODO, FOI O QUE A DITADURA MILITAR PROPICIOU
Falar em defesa da democracia para justificar
o golpe, como faz o ministro de Bolsonaro, é tentar esconder o sol com a
peneira, um exercício fútil de cinismo. Não foi para defender a democracia, mas
sim os interesses das classes dominantes, nacionais e sobretudo estrangeiras,
que o golpe foi perpetrado.
Ao contrário do que sugere o ministro de
Bolsonaro, não foi contra ameaças externas que João Goulart foi derrubado. Foi
para impedir as reformas de base que propôs: a reforma agrária, a reforma
tributária democrática, a taxação das remessas de lucros e dividendos, o
programa reformista do governo trabalhista.
Foi um golpe contra a classe trabalhadora, os
operários na cidade e os camponeses no campo (ansiando a reforma agrária), que
juntos constituíam e ainda constituem a maioria do povo brasileiro.
O caráter de classes do “movimento”
transparece quando percebemos as forças econômicas e políticas que lhe deram
sustentação: a burguesia e os latifundiários brasileiros, aliados ambos aos
EUA.
A participação decisiva do imperialismo, que
chegou a enviar porta-aviões para a costa brasileira na chamada Operação
Brother Sam em apoio aos golpistas, foi décadas depois comprovada por
documentos sigilosos liberados para divulgação pelo governo estadunidense.
Washington não interviu por altruísmo. Um dos
primeiros atos do regime imposto e mantido a ferro e fogo pelos militares foi
revogar a lei das remessas de lucros de Goulart e acabar com a estabilidade no
emprego, medidas pleiteadas pelas multinacionais norte-americanas.
A subordinação ao imperialismo e às instituições
sob seu comando, como o FMI e o Banco Mundial, não serviu aos interesses
nacionais, muito pelo contrário, pagamos alto e ainda estamos pagando por ela.
O balanço geral de 21 anos de golpe foi amplamente negativo.
Quando foi derrubado, com a eleição de
Tancredo Neves no Colégio Eleitoral em 1985 e como desdobramento da épica
campanha das Diretas Já, o regime militar adicionara à desmoralização política,
temperada na corrupção, o legado do que se revelaria como a maior tragédia
econômica da história do capitalismo brasileiro, gerenciada pelo FMI: a crise
da dívida externa, que explodiu em 1981, desdobrou-se na nossa pior recessão
(1981 a 1983) e fez a taxa média anual de crescimento do PIB brasileiro
despencar de 7% para cerca de 2% nas décadas seguintes.
O prejuízo que isto provocou ao
desenvolvimento nacional, o relativo atraso no avanço das forças produtivas
notoriamente em comparação com os países asiáticos, foi enorme, é sensível e ao
mesmo tempo imensurável. Até hoje a economia brasileira não recuperou a
capacidade de crescimento alto e sustentado verificada no período da
industrialização, entre 1930 a 1980.
A
CONQUISTA DA DEMOCRACIA
As gigantescas manifestações por ocasião do
cortejo fúnebre do veterano político mineiro em abril de 1985 soaram como o
dobre de finados do regime tirano, que em seus estertores ainda recorreria ao
terror e a iniciativas golpistas contra a posse do vice de Tancredo, o
ex-presidente José Sarney, que acabou assumindo a Presidência, inaugurando a
chamada Nova República.
São acontecimentos históricos relativamente
recentes e é preciso relembrá-los para aprender a lição. A classe trabalhadora
não respaldou a ditadura militar. Na realidade, foi sua grande vítima. A
democracia veio pelas mãos do povo brasileiro e é dever de todos os democratas
e patriotas defendê-la com energia contra os falsos profetas da extrema direita
que querem abrir caminho para implantação de um regime neofascista.
*Adilson
Araújo é presidente da CTB – Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do
Brasil
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