Informativo
SILVIO ALMEIDA: O RACISMO É UM PROCESSO SOCIAL, POLÍTICO, HISTÓRICO
Nesta
semana, o jurista e filósofo Silvio Almeida (foto) se tornou oficialmente um
“detrator”. Seu nome apareceu numa lista elaboradora por uma empresa contratada
pelo governo federal, a pedido do Ministério da Economia, como um influenciador
crítico do governo do presidente Jair Bolsonaro.
Sua resposta veio de forma irônica, pelo Twitter – onde ele é
seguido por mais de 250 mil usuários. “Acabo de saber que meu nome foi incluído
em um relatório produzido a mando do Ministério da Economia. Minha grande
preocupação agora é: em qual lugar do currículo Lattes devo colocar esta
honraria?”, escreveu, fazendo referência à plataforma acadêmica que serve
como repositório de currículos de pesquisadores brasileiros.
Professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie e da Fundação
Getúlio Vargas, ambas em São Paulo, e pesquisador visitante da Universidade
Duke, nos Estados Unidos, Almeida é uma importante voz contemporânea nas
discussões antirracistas no Brasil. Ele preside o Instituto Luiz Gama,
organização não governamental que luta pela defesa dos direitos e garantias de
negros e minorias, e é autor do livro Racismo
Estrutural, publicado no ano passado.
Ao ver as notícias sobre o espancamento até a morte de João
Alberto Freitas num supermercado Carrefour de Porto Alegre no último dia
19, Almeida disse que ficou “absolutamente sem reação”.
Em meio às repercussões após o crime, Almeida incomodou-se com a
maneira como Bolsonaro, e o vice, Hamilton Mourão, buscaram negar a
existência de racismo no Brasil, classificando a questão como uma causa
“importada”.
“O que está sendo importado, na verdade, não é o racismo, mas os
discursos feitos pelos racistas em outros lugares e que, agora, são
tropicalizados a partir da experiência brasileira e das autoridades
brasileiras”, afirma o pesquisador em entrevista à DW Brasil. “Se está havendo
importação, essa importação está sendo feita por aqueles que não se importam
com o racismo no país.”
DW
Brasil: Na última terça-feira (01/12), se tornou pública uma “lista de
detratores”, produzida a mando do Ministério da Economia, com jornalistas,
professores e influenciadores que seriam contrários ao atual governo. Seu nome
constava nela. Como o senhor se sente em relação a isso?
Silvio
Almeida: Um sentimento misto. Por um lado, me faz pensar que estou
do lado certo da história, da vida, da democracia. Do lado do povo brasileiro,
do lado daqueles que lutam por igualdade, dando orgulho aos nossos ancestrais e
aos meus companheiros e companheiras.
Ao mesmo tempo, vejo isso com muita apreensão, porque sou um
homem negro neste país. Então, fica um temor pela segurança da minha pessoa, da
minha família, dos meus amigos. E também, por conta do meu país, um temor por
saber que estou vivendo sob um governo de pessoas que são autoritárias, pessoas
que não têm nenhum apreço pela democracia. Isso é algo assustador.
A
partir deste mês, a Fundação Palmares, entidade do governo federal,
oficialmente atualizou a lista dos homenageados pela instituição. Quase 30
nomes deixaram de ser considerados “personalidades negras”, entre eles Gilberto
Gil, Martinho da Vila e Madame Satã. Entram outros, como Mussum e o policial do
Bope Rostan Honorato da Silva. Como o senhor avalia essa mudança?
Há certas ocasiões na vida em que atos aparentemente de afronta,
atos que querem nos diminuir acabam nos engrandecendo. Esse é um ato de
engrandecimento, porque tem lugares em que é melhor não estar, diante de certas
circunstâncias. Acredito que, daqui a um tempo, a história vai reservar um
lugar bastante apropriado para todos os atores dessa circunstância, esta peça
que está sendo desenvolvida. Só isso que tenho a dizer. Quero expressar meu
respeito, minha admiração ainda maior por todas as pessoas que foram retiradas
dessa lista.
Como o
senhor soube do assassinato de João Alberto Freitas, um homem negro,
num Carrefour de Porto Alegre? Qual foi a sua reação?
Soube do caso pela televisão […] quando vi mais uma vez um ato
de violência e, mais uma vez, um caso de violência racista. Vi tudo aquilo com
muito choque. Não houve primeira reação. Fiquei absolutamente sem reação. Foi
muito brutal, muito chocante.
Qual
sua leitura sobre os protestos que surgiram em consequência ao assassinato?
São absolutamente fundamentais. Dão índice de que não perdemos a
capacidade de indignação. Os protestos tendem a aumentar à medida que não
houver respostas eficazes que possam interromper esse ciclo de violência
institucional, que é estrutural no nosso país. Precisamos caminhar para a construção
de respostas eficientes ao problema da violência, e os protestos, eles vão se
intensificar à medida que essas respostas não forem dadas.
A
sociedade brasileira está conseguindo compreender que há, sim, racismo no
Brasil?
O debate ganhou força e está sendo travado de uma forma
sofisticada. Estamos conseguindo discutir o racismo para além das questões
individuais, para além de discutir relações interpessoais. Estamos discutindo
mais o racismo do que o racista. É importante entender que é o racismo que
forma o racista, que permite dar espaço para o ódio. O racismo é um processo
social, político, histórico.
Pensar em racismo estrutural necessariamente é estabelecer um
pensamento crítico, que nos leva a pensar não apenas nos contornos analíticos
do problema, mas também pensar em formas de ação. Acho que este é o próximo
passo. Está havendo também muitas vezes uma distorção do conceito de racismo
estrutural para dar guarida à irresponsabilidade de certos indivíduos.
Entendemos que o racismo é algo que nos atravessa independentemente da
consciência, ele nos constitui, nos molda. Mas à medida que sabemos disso,
temos responsabilidade inclusive por nossos atos individuais. Precisamos ficar
mais atentos. A responsabilidade aumenta, não diminui.
De que
forma discursos como o do vice-presidente Mourão, que disse que não existe
racismo no Brasil, que “é uma coisa que querem importar”, fortalecem
comportamentos racistas da sociedade?
[Pronunciamentos assim] são fundamentais para o fortalecimento
do racismo, porque é uma postura negacionista de uma violência que é cotidiana.
É como se houvesse um beneplácito do Estado brasileiro, por meio de suas
autoridades, para que essa violência continue, permaneça.
Acho que um dos componentes para a manutenção do racismo no
Brasil é o negacionismo. Esse discurso de importação é um discurso antigo,
velho, que não quer reconhecer que os seus problemas são seus, ou seja, que o
Brasil é um país onde todos os índices e dados estatísticos mostram que
população negra é, sim, discriminada, não lhe é dada condição de exercer os
direitos garantidos. Mas o governo atual não gosta muito de ciência, não gosta
muito de nada que lembre dados e realidade. Isso de dizer que é um problema
importado é uma forma de blindar os racistas e o racismo.
No Dia
da Consciência Negra, o presidente Bolsonaro também negou a existência de
racismo no Brasil e disse ser “daltônico”, como forma a ressaltar que não vê
diferença entre as etnias…
Em inglês daltonismo é color
blindness [cegueira à cor]. Há uma grande discussão hoje das
teorias acerca das relações raciais sobre como o discurso racista vai ganhando
novas formas, e uma das formas é justamente o discurso do color
blindness. Porque isso permite que situações de desigualdade e
discriminação sejam vistas apenas como atos isolados, e não como resultado de
uma clivagem racial.
O que está sendo importado, na verdade, não é o racismo, mas os
discursos feitos pelos racistas em outros lugares e que, agora, são
tropicalizados a partir da experiência brasileira e das autoridades
brasileiras. Se está havendo importação, essa importação está sendo feita por
aqueles que não se importam com o racismo no país.
Fonte: DW | Foto:
divulgação
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