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10/09/2020

EDITORIAL: BOLSONARO E O PREÇO ALTO DOS ALIMENTOS

Há uma série de fatores a serem considerados para se formar um juízo coerente sobre a disparada dos preços dos alimentos. Entre eles estão a alta do dólar, a demanda chinesa, europeia e asiática, além do período de entressafra em algumas regiões do planeta. Há ainda a alta dos preços ao consumidor no mundo todo e políticas monetárias menos austeras, como é o caso dos Estados Unidos com a decisão do Federal Reserve (o banco central daquele país) de permitir que a inflação ultrapasse a meta de 2%. O Banco Central Europeu (BCE) também vem adotando juros entre -0,5% e 0%.

Internamente, deve-se considerar o avanço da desindustrialização, causado basicamente pela associação entre juros ainda relativamente altos – que atraem capital especulativo para o país –, câmbio flutuante e excessiva liberalidade para o fluxo de capitais. Uma política bem diferente do que faz a China, por exemplo. Com o agravante de que não há o menor sinal de mudança, mesmo em relação a redução de juros para patamares semelhantes ao norte-americano e ao do BCE.

Com essa política, o país fica exposto à overdose de emissões de dólares, que se transformam em capitais especulativos e fluem para cá para girar no circuito financeiro alimentado pelos juros da política monetária brasileira. Não há no país defesa contra a máquina de fabricar inflação e valorização cambial em poder dos países ricos – sobretudo os Estados Unidos –, que segue obstinadamente apegado ao dogma neoliberal do câmbio flutuante. Pesa também na alta do dólar os dados da economia – que se arrasta numa recessão sem fim a vista –, indicando que a taxa de juros precisaria cair mais.

Além do fluxo financeiro parasitário que suga a economia nacional, essa política favorece as exportações – mais reais trocados por cada dólar obtido no mercado externo –, a principal causa da alta dos preços dos alimentos. Outra causa é a pressão da demanda doméstica, aquecida pelo pagamento do auxílio emergencial, mesmo com o país colhendo uma safra recorde de grãos em 2020, um fator que deveria ser aproveitado para fazer expandir a produção e a retomada da economia.

Mas o consumo de massas é uma ideia proscrita no projeto do governo Bolsonaro, regido pelo ideário ultraliberal e neocolonial do seu ministro da Economia, Paulo Guedes. As travas em relação à ideia de estímulo ao consumo básico por amplas massas estão no fato de que ele sempre foi privilégio de poucos. Questões como a melhoria dos níveis de renda e dos investimentos para favorecer o crescimento econômico e o desenvolvimento social não entram como a alma da economia nas teses bolsonaristas.

São os devotos dos dogmas neoliberais, que almejam um corte radical no tamanho do Estado para moldá-lo aos interesses do fluxo financeiro parasitário. Ignoram a lógica simples de que fórmulas financeiras não devem substituir o desenvolvimento de um povo que habita um país repleto de riquezas, como o seu vasto território de terras agricultáveis altamente produtivas. A política econômica de um país não pode ser determinada somente por conceitos monetários.

Esse descaso com o consumo popular de gêneros de primeira necessidade esclarece muitas coisas sobre a natureza desse governo. Ele está inserido no âmbito da completa ausência de empatia do presidente e do seu governo com o povo, manifestada em atitudes como a sabotagem ao distanciamento social para conter a expansão da pandemia por Bolsonaro e os empecilhos à implementação do auxílio emergencial, das medidas de amparo às pessoas que ficaram sem fonte de renda, da ajuda aos estados e municípios e do socorro às empresas micro, pequenas e médias.

Fonte: Portal Vermelho

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