Informativo
BRASIL DEVE PERDER 9 MILHÕES DE EMPREGOS FORMAIS COM AUTOMAÇÃO
O desemprego em massa será um dos impactos do
avanço da automação no Brasil nos próximos 20 anos. Estão em risco 9,2 milhões
dos 16 milhões de empregos com carteira assinada criados no País entre 2003 e
2016. Esses postos de trabalho têm ao menos 70% de chance de sucumbirem à
chegada de máquinas controladas por computadores, conforme estudo do
Laboratório do Futuro, ligado ao Instituto de Pós-Graduação e Pesquisa de
Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ).
Segundo o levantamento, a maior parte dos empregos
gerados sob os governos Lula e Dilma – ou seja, 6 milhões de vagas – tem mais
de 90% de chance de serem eliminados nos próximos dez anos. Yuri Lima,
pesquisador da Coppe, explica que o fenômeno está ligado à natureza dos postos
gerados no período anterior. Eram empregos majoritariamente caracterizados por
baixa qualificação e pouca especialização – portanto, mais propensos a serem
substituídos por máquinas.
Os pesquisadores da Coppe adaptaram os
resultados de pesquisas internacionais sobre automação para a realidade
brasileira e os cruzaram com informações da Relação Anual de Informações
Sociais do governo federal (Rais). O objetivo de médio prazo é determinar o
impacto da automação na matriz de empregos de cada um dos 5.570 municípios do
país, indicando alternativas personalizadas para cada cidade enfrentar o
cenário que se aproxima.
No Rio de Janeiro, município-piloto da
plataforma, os pesquisadores puderam precisar, por exemplo, que, no setor de
varejo, 148 mil pessoas podem perder seus empregos em razão da automação. Por
sinal, na avaliação por atividade, os mais afetados entre os trabalhadores
formalizados serão vendedores do varejo, assistentes administrativos e outros
empregados do setor de serviços, como auxiliares do setor de alimentação. Outras
categorias que devem desaparecer em uma década são estoquistas e operadores de
caixa.
Entre as dez profissões com o maior número de
empregados no Brasil até o início de 2017 – que reuniam 26% da população de
carteira assinada –, só os professores não estão ameaçados de substituição por
máquinas nos próximos dez anos. Isso dá a dimensão do “exército de
substituídos” que deve se somar ao contingente de desempregados, hoje na casa
dos 12,5 milhões de pessoas. Para oferecer dimensão mais exata do problema, a
Coppe atualiza os dados para dezembro de 2018.
Lima, entretanto, adianta que “não houve
criação significativa de postos resilientes à automação a ponto de modificar a
estrutura da matriz de empregos analisada no estudo”. Além de recomendar
políticas de elevação da taxa de escolaridade, requalificação da mão de obra e
geração de empregos ligados à revolução digital, o relatório fala expressamente
em soluções como “renda básica universal” e “ativos básicos universais”. Esses
projetos poderiam oferecer uma rede de proteção social que permita aos
beneficiários transitar para novos empregos.
Em países como Suíça e Reino Unido – onde a
consultoria Deloitte realizou levantamentos análogos ao da Coppe –, a matriz de
emprego é mais resiliente, porque houve ondas de automação com impactos já
absorvidos e, simultaneamente, a geração de funções com maior especialização
técnica. Ainda assim, 48% dos empregos podem sumir na Suíça com a proliferação
das máquinas. No Reino Unido, o índice cai a 35%.
Para chegar aos números do Brasil, os
pesquisadores usaram um estudo da Universidade de Oxford, no Reino Unido,
publicado em 2017, que determina a probabilidade de automação de cada uma das
profissões existentes nos Estados Unidos, a fim de quantificar o impacto da
automação naquele país. Desde então, governos e consultorias privadas têm feito
esforços para adaptar os parâmetros à realidade de seus países.
No início de outubro, o Valor publicou
levantamento da consultoria IDados nessa linha. Conforme a empresa, 58,1% dos empregados
formais ou informais do país serão substituídos por máquinas em até 20 anos,
afetando cerca de 52,1 milhões de pessoas.
A Coppe avançará na avaliação por municípios.
Os resultados, diz Lima, indicam que mais de 60% das populações ocupadas em todas
as cinco regiões do Brasil serão afetadas. Essa substituição por máquinas será
mais forte no Centro-Oeste, onde 70,8% dos empregados de carteira assinada
devem ser afetados. Tudo porque a região tem grandes centros administrativos,
como o Distrito Federal, e municípios com altas taxas de urbanização em
contraste com áreas rurais de baixa densidade demográfica – que já passaram
pela onda de automação do agronegócio.
Em seguida, virão Sul e Sudeste, onde 69,2%
dos trabalhadores devem ser impactados, com forte incidência sobre o setor de
serviços ali concentrado. Na outra ponta estão Norte (64,3%) e Nordeste
(61,3%), que sentirão menos os efeitos da chegada das máquinas por terem
economias marcadas por atividades primárias como extração mineral, vegetal e animal,
pouco expostas à automação.
Fonte:
Portal Vermelho, com informações do Valor Econômico
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