Informativo
MUTILAÇÃO DA PREVIDÊNCIA É TRAGÉDIA HISTÓRICA
O arremate da “reforma” da Previdência Social
no Senado representa o fim de uma era. A entrada dos trabalhadores em cena com
protagonismo político mais organizado, depois de 388 anos de escravismo,
garantiu direitos sociais como conquistas importantes e fundamentais, esteios
da modernização do país no século XX.
Entre elas, a aposentadoria se destaca por
ser, em primeiro lugar, um justo mecanismo de distribuição mínima da renda
nacional; em segundo lugar, por amparar os que, após dar a sua contribuição à economia
nacional, precisam deixar o mercado de trabalho.
São conquistas que atravessaram parte do
século XIX e o século XX. Custaram jornadas heroicas e sangrentas para se
consolidarem após a Revolução de 1930.
A tragédia da "reforma" da
Previdência Social – agora os
trabalhadores vão contribuir mais, receber menos e terão menos cobertura social –
tem essa dimensão histórica.
Ela é produto da ideologia que, ao longo
dessa caminhada, se opôs, não raro de maneira violenta, à ideia de que o
trabalho também tem direitos.
E para isso é preciso haver liberdade de
organização, de manifestação e de expressão para a classe trabalhadora.
O autoritarismo da direita se expressa com
mais agudeza exatamente na ação para coibir esses direitos.
No Brasil, eles nunca foram amplos e
irrestritos, mas o pouco que avançaram foi o suficiente para despertar a reação
dos que encarnam a ideologia escravista, depois envernizada com o liberalismo,
que se manifesta com o controle do Estado por políticas que cerceiam a inserção
do povo na dinâmica da economia para além do trabalho cruciante.
Essa constatação explica por que, em períodos
autoritários, os alvos são as organizações – partidárias e sindicais, sobretudo
– formadas pela ideologia do trabalho.
Foi assim com o golpe de 1964, está sendo
assim com o golpe de 2016.
É a restauração da ordem plena do capital,
que em épocas de crise aguda, como atualmente, tenta arrancar as metas de
lucros com seu garrote ou no porrete.
Como resultado, forja uma sociedade em que
milhões trabalham – quando há trabalho – pela comida ou pouco mais do que isso.
São retrocessos históricos em um país que
sequer realizou completamente a revolução burguesa.
O modo de produção baseado na escravidão foi
oficialmente abolido, o sistema político passou de monarquia à República, o
país trocou o campo pela cidade e a lavoura pela fábrica, mas a sociedade
permanece assentada em enorme e perversa desigualdade.
Nunca houve por aqui sequer um Estado de
bem-estar social com garantias para além de alguns direitos de proteção ao
trabalho, conquistados à base de lutas e em governos com força política para
agir como árbitro entre capital e trabalho.
A “reforma” da Previdência Social joga as
relações trabalhistas para antes da Revolução de 1930.
Mais uma vez, o capital se socorre de suas
armas – o embuste, a manipulação ideológica e a afronta política – para
descarregar nas costas dos trabalhadores o custo da crise.
Sem pudor, os mentores da política econômica
deste governo – sobretudo o presidente Jair Bolsonaro e o ministro da Economia,
Paulo Guedes – mandam espetar novamente essa conta salgada na mesa do povo.
Cumpre ressaltar que a tragédia poderia ter
sido pior, se não houvesse a atuação combativa do movimento sindical e dos
representantes da classe trabalhadora no parlamento.
Os danos foram reduzidos, mas prevaleceu o
rolo compressor neoliberal, movido a bilhões de reais em emendas do orçamento
público federal liberados aos parlamentares.
O resultado indica a necessidade de
perseverar nos esforços por uma frente ampla e unida, aglutinando os movimentos
e entidades do povo e da classe trabalhadora para reverter esse jogo.
Como se sabe, esse projeto dá em catástrofes
e em explosões sociais, como acontece atualmente no Chile.
Fonte: Portal
Vermelho
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