Informativo

19/06/2019

WHATSAPP ESPANHOL ENVIOU ATÉ 3,3 MILHÕES DE MENSAGENS ILEGAIS POR SEMANA PARA ELEGER BOLSONARO

Empresários bancaram 3,3 milhões de mensagens ilegais para eleger Jair Bolsonaro, através de Caixa 2. O presidente da extrema direita faz cara de honesto e parece comprometido com o combate à corrupção, mas sua eleição foi obtida à custa de mensagens mentirosas divulgadas massivamente no Whatsapp. Saiu caro, mas pelo jeito foram seus amigos empresários que bancaram a conta. Agora ele retribui com uma política econômica que reduz direitos e conquistas da classe trabalhadora para beneficiar os donos do capital. 

O espanhol Luis Novoa, dono da Enviawhatsapps, confirmou que empresários brasileiros contrataram programa de sua agência para fazer disparos de mensagens em massa, pelo Whatsapp, em favor do então candidato Jair Bolsonaro (PSL) durante a campanha eleitoral de 2018. Em gravação obtida pelo jornal Folha de S.Paulo, Novoa alega que só soube do uso político quando algumas linhas telefônicas utilizadas passaram a ser cortadas pelo aplicativo de mensagens.

Segundo a reportagem, “empresas, açougues, lavadoras de carros e fábricas” brasileiras contrataram os serviços de Novoa. Até então, ele disse achar normal, pois muitas empresas utilizam os disparos pelo Whatsapp para fazer marketing comercial.

“Mas aí começaram a cortar nossas linhas, fomos olhar e nos demos conta de que todas essas contratações, 80%, 90%, estavam fazendo campanha política”, diz o espanhol. Perguntado se faziam campanha para um partido político, Novoa responde: “Eram campanhas para Bolsonaro”.

CAIXA 2

Os cortes das linhas se deve à proibição, pelo próprio Whatsapp, do envio em massa de mensagens. A legislação eleitoral brasileira também proíbe empresários de fazer doações para campanhas políticas. O caso, agora confirmado, foi revelado em outubro de 2018, pelo mesmo jornal.

À época, cada contrato de “pacote de mensagens” podia custar até R$ 12 milhões. A rede de lojas Havan, de Luciano Hang, estaria entre as empresas envolvidas no escândalo, que ficou conhecido como “caixa 2 do Bolsonaro“. A operação, arquitetada para interferir no resultado do segundo turno das eleições presidenciais, teria envolvido o envio de centenas de milhares de mensagens, em favor do então candidato Bolsonaro e com conteúdos negativos ao opositor, Fernando Haddad (PT).

Questionado, o empresário espanhol negou envolvimento com campanhas políticas no Brasil. “É mentira, não trabalhamos com empresas que tenham enviado (mensagens de) campanhas políticas no Brasil”, afirmou Novoa.

Mas numa gravação “sem permissão” de uma “conversa informal”, o empresário assume o uso político, ainda que não com a participação direta da campanha de Bolsonaro. “Estávamos tendo muitíssimos cortes, fomos olhar os IPs, era tudo do Brasil, olhamos as campanhas, eram campanhas brasileiras”. Segundo a Folha, os brasileiros compraram cerca de 40 licenças do software da agência espanhola. Cada linha pode disparar até 500 mensagens por hora – portanto, o pacote permitia até 20 mil disparos por hora com conteúdo relacionado às últimas eleições. Com isso, o pacote espanhol era capaz de enviar até 3,3 milhões de mensagens por semana em favor da campanha eleitoral de Bolsonaro.

CONFISSÃO

Em vídeo postado nas redes sociais ainda durante a campanha para o primeiro turno das eleições de 2018, empresários apoiadores de Bolsonaro afirmam que fizeram contribuição ilegal para a campanha do agora presidente. Em vídeo, Luciano Hang e Mário Gazin, dono de uma rede varejista que leva o seu nome, pedem votos para Bolsonaro. “Primeiro turno, Bolsonaro. Pra não ter escolha, pra nós não termos que gastar mais dinheiro, pra não ficar todo mundo gastando para o segundo turno”, diz o dono das Lojas Gazin.

Segundo o TSE (Tribunal Superior Eleitoral), apenas as campanhas oficiais podem fazer contratação de impulsionamento de conteúdo eleitoral nas redes sociais.

?“A contratação do serviço de impulsionamento deve ser realizada exclusivamente por partidos, coligações, candidatos ou seus representantes e diretamente por meio da ferramenta responsável pelo serviço, cujo provedor deve ter sede e foro no Brasil, ou com filial, sucursal, escritório, estabelecimento ou representante legalmente estabelecido no país”, segundo lei de outubro de 2017. Além disso, está proibido o uso de ferramentas de automatização, como os softwares de disparo em massa.

APURAÇÃO

Ainda em outubro passado, o PT entrou com ação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), cobrando a apuração das denúncias de caixa 2 em benefício de Bolsonaro. Oito meses depois, ninguém foi ouvido no processo. Segundo reportagem da Folha, a área técnica do tribunal informa ainda não haver decisão quanto a pedidos de depoimentos de testemunhas, nem a Polícia Federal enviou relatório da investigação aberta sobre o tema.

O processo está nas mãos do corregedor-geral eleitoral, ministro Jorge Mussi. Se comprovado o crime de caixa 2, a ação poderá resultar na cassação da chapa vencedora, – Bolsonaro presidente e o general Hamilton Mourão, vice –, por abuso de poder econômico.

A investigação não apenas não evoluiu, como Mussi excluiu do processo o empresário Peterson Rosa Querino, dono da agência Quickmobile, também suspeita de prestar serviço de disparos em massa pelo WhatsApp em favor da campanha do candidato da extrema-direita. O empresário foi procurado pela Justiça, em três tentativas, e não foi encontrado. Em abril, o PT recorreu da decisão, pedindo para que Querino fosse notificado em outro endereço. O ministro negou, alegando que o pedido foi apresentado fora do prazo.

Advogados do PT, Eugênio Aragão e Marcelo Schimidt entraram com mandado de segurança contra a decisão de Mussi. Eles alegam haver indícios de que Querino registrou em documento recente um endereço onde não residia, impossibilitando que fosse localizado “É nítida a tentativa do representado Peterson Querino de se furtar à execução da lei”, afirma a defesa petista. O mandado de segurança aguarda decisão do ministro do TSE, Edson Fachin, que também ocupa uma das cadeiras do Supremo Tribunal Federal (STF).

Fonte: Umberto Martins – Portal CTB

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