Informativo
"BOLSONARO É TUDO O QUE NÃO QUEREMOS", AFIRMA PRESIDENTA DA UNE
Numa
entrevista ao DCM, a presidenta da UNE, Marianna Dias, fala sobre o momento que
vive o país e as perspectivas de lutas dos estudantes. Para ela, Bolsonaro
pretende destruir as conquistas do Brasil.
A estudante de
Pedagogia da Universidade Federal da Bahia, Marianna Dias, foi protagonista de
um dos momentos mais marcantes da Câmara dos Deputados na semana passada.
Impedida por deputados bolsonaristas de falar numa audiência da Comissão de
Educação, com o ministro Abraham Weintraub, improvisou um discurso emocionante
em que deixava clara a disposição dos estudantes brasileiros de se manterem nas
ruas para defender a educação contra os cortes de verbas do governo Bolsonaro.
Leia abaixo os
principais trechos da entrevista:
Como a UNE enxerga o governo do presidente de
forma geral?
Esse governo é tudo o
que não queremos para o Brasil. Um misto de conservadorismo e interesses
privatistas que são capazes de tudo para vender as nossas riquezas. Nós fazemos
oposição desde as eleições porque sabíamos que não existia nenhum projeto para
a educação brasileira ou mesmo para o país como um todo. E agora vemos que além
da falta de projeto, existe uma deliberada tentativa de destruir tudo que
conquistamos nos últimos anos.
A ideia é sucatear,
desmoralizar e acabar com a universidade pública. Porque incomoda a esse
governo e seus colaboradores que os filhos dos trabalhadores têm conquistando
um diploma, estão fazendo doutorado e mudando a composição da universidade com
negros, LGBTs e jovens da periferia lá dentro.
Mas é para isso que a
UNE existe, para defender a educação pública de qualidade e lutar para um
acesso cada vez maior.
O ato de 15 de maio foi maior que o esperado e
de certa forma abalou o governo. A manifestação surpreendeu vocês?
Esse 15 de maio foi
histórico e usando o termo que Bolsonaro se referiu: foi um ‘tsunami’ da
Educação. Foi a melhor resposta que demos aos cortes que vão inviabilizar o
funcionamento das universidades brasileiras. Vimos nas ruas o que já estava
acontecendo nas universidades e institutos federais de todo o Brasil,
estudantes, pais e comunidade acadêmica se mobilizando em massa em defesa da
educação pública. Resultado foi essa onda imensa nas ruas de todas as regiões
do país. E no dia 30 de maio será maior ainda. Não recuaremos enquanto a medida
não for revogada.
Você acha mesmo que a mobilização dos estudantes
nas ruas tem poder de reverter os cortes anunciados pelo governo?
Os estudantes já
mostraram que têm força e a capacidade de serem atores mobilizadores na
sociedade. A nossa pauta é legítima e a população reconhece. Então eu acho que
temos sim o poder de organizar a resistência. Além do nosso futuro é o
desenvolvimento do país que está em jogo. É a recuperação da nossa economia, a
nossa produção científica e a nossa soberania nacional.
Não satisfeito com os cortes, Bolsonaro publicou
um decreto que retira mais autonomia das federais, desta vez na área
administrativa-acadêmica impedindo os reitores de nomearem vice-reitores e
diretores. Qual a sua opinião sobre isso?
Desde a época das
eleições sabemos que existe uma perseguição às universidades federais porque
elas foram um polo de resistência ao projeto conservador que representa
Bolsonaro. Naquela época diversos comitês foram formados por estudantes,
professores e trabalhadores da educação para debater projetos políticos e
refletir sobre a nossa democracia.
Bolsonaro não aguenta
nenhum tipo de oposição e não entende a riqueza que é a diversidade de
pensamento e por isso tem feito dessas instituições de ensino o seu principal
alvo. Desde a ditadura não víamos esse tipo de autoritarismo e este decreto foi
um passo a mais rumo ao obscurantismo que tem rumado nosso país.
A UNE teve papel decisivo na queda do presidente
Collor, com os caras pintadas. Acha que os estudantes podem repetir isso com o
Bolsonaro?
Com os caras pintadas
fomos mais uma vez a vanguarda da luta democrática levando às ruas a vontade do
povo. Com Bolsonaro temos conscientizado a população sobre a sua falta de
projeto e das graves consequências para o futuro do país. Acredito que as
pessoas estão começando a entender.
Já tem muita gente na
luta, afinal mais da metade da população não votou nesse projeto privatista e
estamos angariando forças. A verdade é que sempre estivemos nas ruas, e a nossa
biografia tem diversos capítulos de vitória, como foi mais recentemente com a
aprovação do PNE e 10% do PIB para educação, o que prova que nós estudantes
podemos sim mudar os rumos da nossa história.
O MBL, movimento de extrema-direita, anunciou
que o seu próximo projeto é atuar na área estudantil, com claro propósito de
concorrer com a UNE. Essa movimentação preocupa?
Sempre dissemos que o
MBL é livre para montar uma chapa e vir concorrer o processo eleitoral da UNE.
Na falta de coragem de disputar democraticamente eles querem abrir uma entidade
paralela.
Até onde a UNE pretende ir contra as políticas
para a Educação do governo de Jair Bolsonaro?
Não vamos aceitar
nenhum direito a menos. A educação é de longe a área mais atacada por esse
governo privatista e não vamos arredar o pé das ruas até sermos ouvidos.
O ministro falou em balbúrdia nas universidades,
o presidente chamou os estudantes de imbecis. Qual a sua opinião sobre essas
declarações?
Visivelmente Jair
Bolsonaro não sabe o que é uma universidade ou mesmo como funciona.
As instituições de ensino são lugares de trabalho
sério, de estudo de qualidade, que produz pesquisa e desenvolvimento para o
país. Isso é fato, temos números que comprovam a qualidade de ensino.
Quais as próximas agendas da UNE, e quais os
objetivos?
Depois do sucesso do
dia 15, estamos convocando todos os estudantes para se mobilizarem nos próximos
dias, indo às ruas com suas produções acadêmicas e materiais de estudo e também
convocando assembleias em todas universidades, cursos, institutos federais e
escolas para organizar os atos do dia 30 de Maio.
Vamos também acumular
forças para a luta contra a Reforma da Previdência que terá seu ápice na Greve
Geral de todos trabalhadores no dia 14 de Junho.
Fonte: DCM | Foto: Richard Silva/PCdoB na Câmara
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