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12/04/2018

TEMER AMPLIA DESIGUALDADE AO ENFRENTAR CRISE COM MEDIDAS ANTI-POVO

Dados divulgados nessa quarta (11) pelo IBGE apontam queda na renda dos brasileiros e aumento da desigualdade em 2017. Para o sociólogo e diretor técnico do Dieese, Clemente Ganz Lúcio, os números são reflexo da grave recessão, enfrentada por Michel Temer com medidas que prejudicam o trabalhador. E o horizonte não é nada animador. A inflação oficial de março, que atingiu o nível mais baixo para o mês em 24 anos, sinaliza que a economia continua debilitada. 

De acordo com o IBGE, no ano passado, o 1% da população brasileira com os rendimentos mais elevados – ou seja, o topo da pirâmide social – recebia 36,1 vezes mais do que a metade mais pobre da população. A desigualdade de renda aumentou em todo o país, exceto no Sudeste.
Em 2017, as pessoas que tinham algum rendimento recebiam, em média, R$ 2.112,00, contra R$ 2.124,00 em 2016. Nos estratos mais vulneráveis da sociedade, a comparação expõe um cenário ainda mais perverso. A renda média mensal dos trabalhadores mais pobres – grupo que contém 4,5 milhões de pessoas, ou 5% da população trabalhadora – recuou de R$ 76, em 2016, para R$ 47 no ano passado. 

“A tendência do aumento da desigualdade de renda é consequência da grave recessão. Quem mais se prejudica nessa situação são os trabalhadores, que perdem o emprego e têm seus salários achatados. De outro lado, os ricos acabam tendo capacidade de ampliar seu patrimônio e sua renda”, diz Clemente Ganz. Segundo ele, o topo da pirâmide se beneficia de diversas maneiras da situação difícil da economia. 

“Os ricos aumentam sua renda decorrente da remuneração que recebem pela dívida pública e por tudo que têm de recursos aplicados no sistema financeiro. Com o espraiamento da crise para todos os setores, ganham capacidade de adquirir patrimônio com baixo custo. É a hora em que concentram patrimônio, porque tudo vira uma pechincha. Então eles têm capacidade de defender e ampliar sua renda e riqueza nesses momentos”, detalha.

Já os mais pobres pedem empregos, renda e, por fim, quando têm algum patrimônio, precisam até se desfazer dele, pois deixam de ter condições de pagar as prestações, seja de um carro ou de um imóvel financiado. Além do mais, o desemprego de longo prazo termina por submeter os trabalhadores a aceitarem postos de trabalho com salários inferiores, e isso tudo colabora para, junto com a retomada de ocupações informais, aumentar a desigualdade. 

“Esse é o resultado natural dessa crise, enfrentada pelo governo com as políticas que temos observado, que, na verdade, só agravam os problemas para os trabalhadores. Todas essas medidas [a exemplo da reforma trabalhista] podem até gerar uma saída da crise, mas geram uma economia mais fraca, mais subordinada ao aumento da desigualdade, porque há aumento da precarização, queda nos salários, as ocupações informais crescem. A resposta à crise tem sido aquela que diminui a capacidade do trabalho sair bem desse processo”, afirma Clemente.

Ele destaca que, na verdade, esse é um processo vivenciado não só no Brasil. Os países centrais que estão saindo da crise de 2007 e 2008 também têm contabilizado aumento da desigualdade, fundamentalmente pela precarização do mercado de trabalho e pela expansão da renda dos ricos, algo que economista francês Thomas Piketty vem denunciando há algum tempo.

“O Brasil era um ponto fora da curva. Embora isso não acontecesse na velocidade que a gente gostaria, as políticas eram no sentido da redução das desigualdades. Mas nem isso a gente conseguiu segurar”, lamenta, falando da mudança de rota do último período.

ECONOMIA TRAVADA

Embora a princípio pareça um dado positivo, a inflação abaixo do esperado no último mês indica que os problemas da economia – que tanto penalizam os mais pobres e aumentam o fosso entre os de baixo e os de cima – ainda não estão perto de acabar. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), considerado a inflação oficial do país, ficou em 0,09% em março, bem abaixo dos 0,32% de fevereiro. É o menor patamar da série histórica do IBGE. 

Há nove meses consecutivos, o indicador que mede a inflação acumulada em 12 meses está abaixo de 3%, algo inédito desde a implementação do Plano Real, em 1994. O centro da meta de inflação é de 4,5% para este ano, com margem de 1,5 ponto percentual, para mais ou para menos. 

“Esse resultado, em grande medida, repercute uma economia que sofre os impactos da grave recessão e que tem sérias dificuldades de retomar uma dinâmica de crescimento. (...) A taxa de inflação é baixa porque a economia está travada e os preços estão sendo segurados porque não tem consumo. Se eu aumentar o preço, não vendo. Uma baixa inflação como essa é sinal de debilidade da economia”, indica Clemente. 

Ele ressalta o quadro no qual há um mercado de trabalho com 13 milhões de desempregados e um outro contingente de subocupados. Embora tenha havido uma leve redução na taxa de desemprego, ela foi influenciada pela criação de ocupações informais, que resultam em queda na renda do trabalho. Tudo dificulta a retomada do consumo. Além disso, faltam investimentos nos setores público e privado. 

“Tudo isso está travando a economia. Se você não tem consumo, nem investimento e as empresas têm capacidade ociosa, os preços vão abaixo, na verdade, tentando retomar algum nível de venda e consumo, numa situação ainda muito agravada pelas altas taxas de juros no mercado financeiro. O crédito não auxilia”, critica o assessor do Dieese.

De acordo com ele, só baixar a taxa básica de juros, como tem feito o Banco Central, não resolverá a situação do país. “A taxa de juros serve como um freio na economia. Ao baixá-la, o governo tira o pé desse freio. A pergunta é: mas quem acelera? Para acelerar, ou tem renda para estimular o consumo, ou tem investimento. Mas como nada disso está acontecendo, o Banco Central tira o pé do freio, mas ninguém põe no acelerador. Então a economia começa a andar de lado”, resume.

O IBGE também divulgou nesta quarta que oito dos 15 locais pesquisados no país tiveram queda na produção industrial de janeiro para fevereiro deste ano, o que reforça a ideia de que uma retomada consistente do crescimento não se avizinha. 

“A indústria está girando no fio da navalha de um consumo baixo. Nenhuma empresa vai ampliar sua produção, se não tem para quem vender. Os números da atividade industrial em alguma medida repercutem esse tipo instabilidade e insegurança sobre o nível de produção”, avalia.

Fonte: Joana Rozowykwiat do Portal Vermelho

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