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01/03/2022

MAIS INFLAÇÃO, MENOS PIB: COMO A GUERRA NA UCRÂNIA IMPACTA O BRASIL

Em ao menos três setores – combustíveis, alimentos e câmbio –, País pode sentir os efeitos do conflito

A guerra na Ucrânia pode produzir impactos econômicos a mais de 10 mil quilômetros de distância. Em ao menos três setores – combustíveis, alimentos e câmbio –, o Brasil pode sentir os efeitos do conflito. A instabilidade no Leste europeu pode não apenas impactar a inflação como também resultar em aumentos adicionais nos juros, comprometendo o crescimento econômico para este ano.

Segundo a pesquisa Sondagem da América Latina, divulgada pela Fundação Getulio Vargas (FGV), as turbulências na Ucrânia devem agravar as incertezas que pairam sobre a economia global nos últimos meses. No Brasil, os impactos deverão ser ainda mais intensos. Uma das razões é a exposição maior aos fluxos financeiros globais que o restante da América Latina, com o dólar subindo e a bolsa caindo mais que na média do continente.

A própria pesquisa – que ouviu 160 especialistas em 15 países – constatou a deterioração do clima econômico. Na média da América Latina, o Índice de Clima Econômico caiu 1,6 ponto entre o quarto trimestre de 2021 e o primeiro trimestre deste ano, de 80,6 para 79 pontos. No Brasil, o indicador recuou 2,8 pontos (de 63,4 para 60,6 pontos) e apresentou a menor pontuação entre os países pesquisados.

CANAIS

Segundo a FGV, existem diversos canais pelos quais a crise entre Rússia e Ucrânia pode chegar à economia brasileira. O principal é o preço internacional do petróleo, cujo barril do tipo Brent encerrou a semana em US$ 105, no maior nível desde 2014. O mesmo ocorre com o gás natural, produto do qual a Rússia é a maior produtora global. O BTU, tipo de medida de energia, pode chegar a US$ 30, conforme disse em entrevista coletiva o diretor de Refino e Gás Natural da Petrobras, Rodrigo Costa. O Brasil usa o gás natural para abastecimento das termelétricas. Para o diretor da estatal, a perspectiva é que a elevação dos reservatórios das usinas hidrelétricas no início do ano possa compensar, pelo menos nesta fase de início de conflito.

Em relação à gasolina, a recuperação da safra de cana-de-açúcar está reduzindo o preço do álcool anidro, o que também ajuda a segurar a pressão do barril de petróleo num primeiro momento. Desde novembro do ano passado, o litro do etanol anidro acumula queda de 24,6% em São Paulo, segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Universidade de São Paulo. As maiores pressões sobre combustíveis estão ocorrendo sobre o diesel, que não tem a adição de etanol e subiu 3,78% em janeiro, segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15), que funciona como prévia da inflação oficial.

ALIMENTOS

Outro canal pelo qual a guerra no Leste europeu pode afetar a economia brasileira são os alimentos. A Rússia é a maior produtora mundial de trigo. A Ucrânia ocupa a quarta posição. Nesse caso, o Brasil não pode contar com outros mercados porque a seca na Argentina, tradicionalmente maior exportador do grão para o Brasil, está comprometendo a safra local.

A crise no mercado de petróleo também pressiona os alimentos. Isso porque a Rússia é o maior produtor mundial de fertilizantes, que também são afetados pelo petróleo mais caro. Atualmente, o Brasil compra 20% dos fertilizantes do mercado russo. O aumento do diesel também interfere indiretamente no preço da comida, ao ser repassado por meio de fretes mais caros.

DÓLAR E JUROS

O terceiro fator pelo qual a crise entre Rússia e Ucrânia pode impactar a economia brasileira é o câmbio. O dólar, que chegou a atingir R$ 5 na quarta-feira (23), fechou a sexta (25) a R$ 5,15 após a ocupação de cidades ucranianas por tropas russas. Por ora, os efeitos cambiais são relativamente pequenos porque o Brasil se beneficiou de uma queda de quase 10% da moeda norte-americana no acumulado de 2022. O prolongamento do conflito, no entanto, pode anular a baixa do dólar no início do ano.

Caso o dólar continue a subir e a inflação não ceder, o Banco Central tende a aumentar a taxa Selic (juros básicos da economia) mais que o previsto. Nesse caso, o crescimento econômico para este ano ficaria ainda mais prejudicado.

Na última edição do boletim Focus (pesquisa semanal com instituições financeiras divulgada pelo Banco Central), os analistas de mercado elevaram a projeção anual de inflação oficial para 5,56% em 2022. Essa foi a sexta semana seguida de alta na estimativa. A previsão de crescimento para o Produto Interno Bruto (PIB) foi mantida em apenas 0,3%.

Fonte: Portal Vermelho, com informações da Agência Brasil

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