Informativo
DESCOMPASSO: POR QUE EMPREGO E RENDA NÃO ACOMPANHAM ALTA DO PIB?
Por
Mariana Branco
O crescimento de 1,2% do Produto Interno
Bruto (PIB, soma dos bens e riquezas produzidos por um país), divulgado pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), contrasta com o alto
desemprego e a perda de renda dos brasileiros. O desempenho do PIB refere-se ao
1º trimestre deste ano na comparação com o 4º trimestre de 2020.
Vale lembrar que, também para o 1º trimestre
de 2021, o IBGE registrou um desemprego recorde de 14,7%, correspondente a um
contingente de 14,8 milhões de brasileiros desocupados.
Além disso, um levantamento divulgado nesta
quinta-feira (10) pelo professor Daniel Duque, do Instituto Brasileiro de
Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV) mostra uma retração de 10% na
renda média domiciliar per capita dos brasileiros, que recuou de R$ 1.185 no 1º
trimestre do ano passado para R$ 1.065 no mesmo período deste ano.
Outro dado econômico que indica piora na
situação das famílias é a inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor
Amplo (IPCA) em maio. O índice variou 0,83% em relação a abril, a maior alta em
25 anos, e acumula elevação de 8% em 12 meses.
Segundo o economista Paulo Kliass, para
compreender o descompasso entre PIB e a vida real dos brasileiros, é preciso
analisar detalhadamente a composição da produção de bens e riquezas nos
primeiros três meses deste ano. A alta de 1,2% foi puxada pela agropecuária,
que, sozinha, cresceu 5,7%. Os setores de serviços e a indústria tiveram
crescimento bem mais modesto, de 0,4% e 0,7%, respectivamente. Já o consumo das
famílias teve variação negativa de 0,1%.
“Quando você abre as contas nacionais, vê que
os setores que estão dando maior contribuição [ao PIB] são ligados à
exportação. Esses setores são muito pouco intensivos em trabalho. As grandes
fazendas de soja, ao contrário dos processos produtivos no passado, são muito
pouco intensivas em mão de obra. Isso gera um nível de receita concentrado nas
grandes empresas, ou no complexo agropecuário, que de maneira geral impacta o
PIB”, afirma Kliass.
O economista pontua que o crescimento do
setor agropecuário acaba se expandindo para outras cadeias produtivas, como a
de transportes.
“O conjunto do PIB cresce e acaba ficando
esse paradoxo. A gente acaba reproduzindo esse modelo de neocolonialismo, que é
o país se especializar na venda de bens primários. São bens muito baixos em
valor agregado e você perde capacidade produtiva industrial, perde potencial de
geração de serviços da indústria inteligente, da indústria 4.0”, comenta.
Kliass pontua ainda que o setor de serviços,
o mais intensivo em mão de obra, segue estagnado, tendo registrado a menor
variação positiva no PIB.
INFLAÇÃO
Paradoxalmente, o novo ciclo das commodities
(produtos básicos com cotação internacional), que movimentou as exportações e
contribuiu para o crescimento do PIB, causa a alta da inflação que castiga os
brasileiros. Além de as commodities estarem valorizadas, o dólar está alto,
encarecendo insumos como o trigo, usado na produção de diversos alimentos
consumidos pelo brasileiro. Outra commodity valorizada e negociada em dólar é o
petróleo, cujos preços refletem na alta interna dos combustíveis.
Paulo Kliass destaca que o governo poderia
atuar para minimizar os impactos disso internamente, mas opta por não fazê-lo,
seguindo a orientação liberal do ministro da Economia, Paulo Guedes.
“Você poderia ter mecanismos como os estoques
reguladores, algo que a gente sempre teve no passado através da Conab
[Companhia Nacional de Abastecimento]. O governo comprava volumes enormes da
produção agrícola para poder entrar na entressafra ou quando houvesse algum
movimento especulativo de alta nesses produtos”, diz.
O dólar em alta tampouco é visto como um
problema por Paulo Guedes. No ano passado, quando a moeda disparou, o ministro
da Economia chegou a declarar que isso era “bom” e que com o dólar muito baixo
havia “empregadas domésticas viajando para a Disney”.
Fonte:
Portal Vermelho
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