Informativo
O BRASIL DE BOLSONARO NA CONTRAMÃO DA HISTÓRIA
Por Umberto Martins,
editor do Portal CTB
Presenciamos
nesses dias um dos capítulos mais indignos da história do Brasil.
O
presidente Jair Bolsonaro acaba de desempenhar nos EUA o papel de um governante
vassalo, completamente subserviente ao bilionário Donald Trump, um líder de
extrema direita que não goza de boa reputação na chamada comunidade
internacional, nem mesmo entre os mais tradicionais aliados de Washington.
O
espírito de vira-lata (descoberto por Nelson Rodrigues) baixou com tal
desenvoltura no capitão reformado que escandalizou até o jornalista Marco
Antonio Villa, um colunista conservador acostumado a criticar diuturnamente o
PT.
“Esta
viagem está sendo desastrosa”, comentou, classificando de “absurdo o que está
sendo feito. Você se alia aos EUA e não vai receber nada. É necessário acabar
com essa subserviência”.
Com
efeito, Bolsonaro sentou no colo de Donald Trump e cedeu praticamente a todos
os desejos do seu chefe e ídolo.
Entregou
a estratégica base aérea de Alcântara (MA), disse que o Brasil “está a postos”
para servir de bucha de canhão numa possível intervenção militar do
imperialismo na Venezuela, acenou com a internacionalização da Amazônia,
reduziu tarifas de importação de trigo e abriu o mercado para carne suína
estadunidense.
Ele
também liberou visto para turistas provenientes daquele país sem qualquer
contrapartida e humilhou brasileiros imigrantes apoiando a política xenófoba de
Trump, incluindo a construção do chamado “Muro da Vergonha” na fronteira com o
México.
Chegou
ao ponto de declarar que a grande maioria dos imigrantes “não tem boas
intenções”.
Como
se não bastasse, sinalizou com apoio à estratégia do imperialismo contra a
China, nossa maior parceira comercial que já se transformou na maior economia
do planeta, condição que a coloca naturalmente numa rota de colisão com os EUA,
que querem manter a qualquer preço a hegemonia sobre a geopolítica global.
CONTRA OS INTERESSES
NACIONAIS
Orientada
pela mais tosca das ideologias, a política externa do governo Bolsonaro está na
contramão da história e também dos interesses nacionais.
Não
é preciso grande esforço intelectual para perceber que ao longo da história
universal, a política imperialista dos Estados Unidos, inaugurada no século 19,
contrariou os interesses dos povos e das nações do Terceiro Mundo, sobretudo na
América Latina e Caribe, região considerada como um mero “quintal” por
Washington, mas igualmente no Oriente Médio, na África, Ásia e mesmo na Europa.
No
Brasil, os Estados Unidos estiveram desde sempre aliados às forças sociais mais
obscurantistas e reacionários para combater as forças progressistas e sabotar o
desenvolvimento nacional.
Foram
as “forças subterrâneas” denunciadas por Getúlio Vargas, levado ao suicídio em
1954; enviaram uma frota para garantir o golpe militar de 1964, que depôs João
Goulart, e deixaram fortes impressões digitais no golpe de Estado de 2016,
travestido de impeachment.
Grampearam
a ex-presidente Dilma Rousseff e municiaram a Lava Jato com informações sobre a
Petrobras e a Odebrecht colhidas por suas agências de espionagem.
Convém
lembrar que Sergio Moro, acusado de ser um “agente dos EUA” pelo jurista Fábio
Konder Comparato, fez questão de visitar com Bolsonaro a sede da CIA em
Washington.
Na
América Latina os EUA estiveram por trás dos sangrentos golpes de Estado no
Chile (liderado por Augusto Pinochet em 1973), na Argentina (1975) e outros países.
Uma
das contrapartidas ao espetáculo de vira-latismo, destacado com ironia pelo
jornal “Washington Post”, foi o aval do governo norte-americano ao ingresso do
Brasil na decadente OCDE, considerada por apologistas do capitalismo neoliberal
como um “clube dos ricos”, o que já não corresponde aos fatos.
Tal
associação, embora celebrada pela mídia, tampouco está em sintonia com os
interesses nacionais, pois nos impõe prejuízos, uma vez que (descartada por
Lula e por Dilma) está condicionada à perda de vantagens no comércio exterior
conferidas aos países considerados em via de desenvolvimento, como tarifas
diferenciadas para proteger a indústria e ramos sensíveis da economia.
UMA POTÊNCIA EM DECLÍNIO
Conquistada
no bojo da Segunda Guerra Mundial e traduzida nos acordos celebrados na cidade
estadunidense de Bretton Woods em 1944, a hegemonia dos EUA tem por principal
fundamento a sua força econômica, que ao término da carnificina era
indiscutível. Mas hoje em dia este poder está em franco declínio, em função do
parasitismo enraizado no American Way of life (modo de vida americano) e, em
igual ou maior medida, do desenvolvimento desigual das nações, uma lei da
história moderna, refletida nas disparidades das taxas de crescimento dos PIBs,
que resultou na fulminante ascensão da China.
A
ação desses fatores ao longo das últimas décadas promoveu transformações de
vulto na economia mundial e na correlação de forças entre as grandes potências,
conduzindo ao deslocamento da produção industrial, e por extensão do poder
econômico, do chamado Ocidente (leia-se EUA, Europa e Japão) para o Oriente, e
principalmente dos Estados Unidos para a China.
Isto
também significa o esgotamento da ordem mundial fundada na hegemonia do dólar e
liderada pelos EUA, o que se desdobra objetivamente num processo de transição
global na direção de uma nova ordem internacional, que a julgar pelos
propósitos declarados por Pequim e Moscou deve ser orientada pelo respeito ao
direito dos povos e nações à autodeterminação, à margem de intervenções
imperialistas, bem como pelo multilateralismo, ou seja, sem hegemonismo e
unilateralismo, como é o caso da atual.
A
sabujice que guia a política externa de Bolsonaro vai na contramão deste
movimento, e por isto na direção oposta ao novo cenário geopolítico que está
sendo desenhado pela história. A subordinação do Brasil aos EUA seria um gesto
vil e desprezível em qualquer momento da nossa história, mas é um contrasenso
que pode nos custar caro especialmente no atual contexto, em que os EUA nada têm
a nos oferecer senão mais exploração e sofrimento.
Hostilizando a China, por outro lado, temos muito a
perder e já começamos a acumular prejuízos. O gigante asiático, que absorve 26%
das exportações brasileiras (mais do que o dobro dos EUA, que ficam com apenas
12%), já reduziu e suspendeu investimentos bilionários no Brasil em reação às
provocações do governo de extrema direita. Agora está restringindo as compras
de produtos oriundos do agronegócio, para desespero dos nossos ruralistas, que
já manifestam arrependimento pelo entusiasta e pouco racional apoio que deram
ao golpe de 2016 e à eleição do capitão fascista.
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