Informativo
A ASCENSÃO E A VERGONHOSA QUEDA DO BRASIL NO G20
Por Osvaldo Bertolino
O Brasil
será mero coadjuvante na cúpula do G20, que será realizada sexta-feira (30) e
sábado (1) em Buenos Aires, Argentina. Esse papel secundário, com o usurpador
presidente da República Michel Temer cumprindo o papel de figura decorativa, um
mero espectador, se deve, basicamente, à queda do prestígio internacional, o
que afasta o país das principais discussões no encontro. “Estar presente é
sempre bom, mas hoje o Brasil não é um protagonista, mas sim um coadjuvante.
Ele estará assistindo para aproveitar indiretamente a decisão de terceiros”,
afirma José Augusto de Castro, presidente da Associação do Comércio Exterior do
Brasil (AEB), à revista IstoÉ Dinheiro.
A mesma opinião é compartilhada pelo economista
Carlos Braga, professor da Fundação Dom Cabral (FDC). Para ele, a participação
da comitiva brasileira se limitará em acompanhar os principais debates que
centralizarão o encontro do G20. “Para o Brasil, ainda mais em mudança de
governo, será uma expectativa de quem assiste da plateia. No passado o país teve
um papel mais importante (nas discussões do G20), afirmou”.
O BRASIL COMO LOCOMOTIVA
O G20, grupo que reúne 19 grandes economias
(África do Sul, Alemanha, Arábia Saudita, Argentina, Austrália, Brasil, Canadá,
China, Coréia do Sul, Estados Unidos, França, Índia, Indonésia, Itália, Japão,
México, Rússia, Reino Unido e Turquia), mais a União Europeia, se reúne há
exatos dez anos depois que em novembro de 2008 seus líderes se encontraram em
Washington, a capital norte-americana, para, segundo eles, coordenar uma reação
à crise financeira global. Foi o primeiro encontro em que o G20 passou de um
fórum de ministros de finanças para um encontro de chefes de Estado e governo.
Ao voltar ao Brasil, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que o
encontro mudava "a lógica das decisões políticas".
Naquela época, o Brasil era tido como promessa
de locomotiva para recuperação mundial e tinha a liderança carismática de
Lula, saudado pelo então presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, como
"o cara" — além do seu protagonismo no BRICS (Rússia, Índia, China e
África do Sul). Na Presidência da República, Lula combateu os competidores
internacionais em duas frentes — no quintal brasileiro e no quintal deles. Ao
se transformou em uma economia relevante no mercado internacional, com um
comércio exterior respeitado inclusive no terreno político — como demonstrou o
desempenho brasileiro no G20 e na Organização Mundial do Comércio (OMC) —, o
Brasil, sob a liderança de Lula, chegou à relevância internacional basicamente
por meio do protagonismo do governo, que atuou de modo firme e eficaz junto aos
parceiros comerciais, gerando acordos bilaterais e multilaterais.
PERIGO EXISTENCIAL
Na reunião de Buenos Aires, as previsões são de
que o debate incluirá temas como acordos financeiros, tensões diplomáticas e
crises migratórias. Contudo, o assunto que vem recebendo mais atenção da mídia
é a guerra comercial dos Estados Unidos com a China. No fim de setembro, o
governo norte-americano iniciou a taxação de 10% em cima de diversos produtos
chineses, somando US$ 200 bilhões. À época, o presidente norte-americano Donald
Trump já havia avisado que o índice seria elevado para 25% nos primeiros dias
de 2019. Em retaliação, a China também elevou barreiras para a importação de milhares
de produtos dos Estados Unidos e prometeu subir o tom caso as ameaças
norte-americanas se concretizem.
De acordo com a BBC Brasil, também estará no foco do G20 a necessidade de
reforma da OMC. Os Estados Unidos têm bloqueado a nomeação de novos juízes para
o órgão de apelação, espécie de corte suprema dos conflitos comerciais, e
ameaça deixar a organização. "A situação do G20 hoje é muito mais
precária. Trump representa uma visão internacional que enfatiza a
competição", ressalta o professor de Relações Internacionais da Fundação
Getúlio Vargas (FGV) Matias Spektor, ao analisar a última década.
Spektor ressalta, porém, que o problema não está
localizado apenas nos Estados Unidos e a crescente tensão com a China. O Reino
Unido, cujo então primeiro-ministro Gordon Brown teve papel fundamental na
inclusão dos países emergentes na mesa de discussão da crise financeira em 2008
e 2009, hoje está enfraquecido sob a liderança de Theresa May por causa da
implementação do plano de saída da União Europeia, o Brexit, aprovado em 2016.
Ele disse à BBC Brasil que a Alemanha também perde capacidade de
liderança diante da expectativa de troca de comando — Angela Merkel, chanceler
alemã desde 2005, anunciou que não tentará a reeleição em 2021 depois que seu
partido teve desempenho fraco em pleitos regionais. É possível que ela deixe o
comando do país ainda antes. "Além disso, em 2009, os líderes enfrentaram
um perigo comum, claro e presente de um colapso financeiro e econômico global.
Hoje, eles estão lidando com questões menores e mais lentas, como o comércio, e
ainda não perceberam o perigo existencial trazido agora pelas mudanças
climáticas descontroladas", acrescentou.
BASE MILITAR NO URUGUAI
O G20 reúne 85% do produto global, dois terços
da população mundial e 75% do comércio internacional, além de um pouco mais de
80% dos investimentos globais para o desenvolvimento de pesquisas. Além dos
países-membros e convidados especiais, as principais organizações regionais,
como a Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean) e a União Africana, a
Nova Parceria para o Desenvolvimento da África (Nepad) e a Comunidade do Caribe
participam das cúpulas (Caricom).
Há, ainda, organizações multilaterais, como o
Banco Mundial, o Conselho de Estabilidade Financeira (FSB), o Fundo Monetário
Internacional (FMI), as Nações Unidas, a Organização Internacional do Trabalho
(OIT), a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e OMC.
Durante a cúpula, segundo a agência de
notícias Sputnik, os Estados Unidos pretendem
instalar uma base de operações no território uruguaio para garantir a segurança
do evento. “Em Montevidéu se ouvem muitas vozes de objeção contra a logística
militar do Pentágono. O deputado uruguaio de esquerda, Eduardo Rubio, declarou
em diálogo com a que posicionamento de oito aviões e de 400 militares
representa de fato uma ‘pequena ocupação’ do Uruguai pelas forças de
Washington”, de acordo com a Sputnik.
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