Informativo
PRESSÃO DE INDUSTRIAIS POR ESPAÇO PODE ENFRAQUECER TRABALHADORES
Na
disputa entre a indústria e o mercado financeiro no interior do governo Jair
Bolsonaro, os trabalhadores podem levar a pior. Insatisfeito com o projeto da
futura gestão de incorporar o Ministério de Indústria, Comércio Exterior e
Serviços (Mdic) ao Ministério da Economia, o setor produtivo sugeriu a criação
do Ministério da Produção, Trabalho e Comércio. Caso a pressão surta efeito, a
nova pasta deverá desequilibrar ainda mais a já desigual ralação entre capital
e trabalho.
A
maior proximidade do futuro governo com o setor financeiro tem deixado os
industriais brasileiros ressabiados. Ainda durante a campanha, eles reclamaram
de falta de diálogo com a equipe de Bolsonaro, da ausência de clareza sobre os
planos para a indústria e de propostas que consideram prejudiciais à produção
nacional.
Além
de criticarem a intenção do ex-militar de promover uma maior abertura da
economia de forma “unilateral”, rejeitaram a ideia de a área que define
políticas para a indústria ser abocanhada pelo superministério da Economia. A
nova pasta, que pretende reunir Fazenda, Planejamento e Mdic, ficará sob o
domínio de Paulo Guedes, um dos fundadores do banco Pactual e defensor
fervoroso dos interesses de seus pares no sistema financeiro.
Como
contraproposta para não perder espaço, dez entidades ligadas ao setor
industrial – Abimaq, Abinee, Abicalçados, Abiquim, Abit, Abrinq, Anfavea, AEB,
Cbic e Instituto Aço Brasil – propuseram agora a combinação de produção e
trabalho em um único ministério.
"A
junção entre produção e trabalho é uma mudança de paradigma, que busca
desburocratizar e aprimorar a relação capital-trabalho, facilitando assim a
colaboração entre as partes e promovendo o empreendedorismo, a inovação, a
produtividade e a competitividade da economia brasileira", diz um trecho
do documento dos industriais enviado à equipe de Bolsonaro.
Os
trabalhadores, contudo, enxergam a possibilidade de fusão de forma bem
diferente. “Em qualquer país desenvolvido existe uma área do governo que trata
especificamente do trabalho”, declarou ao Portal Vermelho Marcelino da Rocha,
presidente da Federação Intersindical de Metalúrgicos e Metalúrgicas do Brasil
(Fitmetal). Segundo ele, a fusão do ministério do Trabalho com a indústria
resultará em enfraquecimento da primeira pasta.
“Vai
ser uma continuidade do golpe de 2018 que esvaziou o papel do ministério do
trabalho. O golpe que levou Michel Temer à Presidência impediu a realização de
concurso públicos, enfraqueceu superintendências regionais, enfraqueceu
fiscalização. Fundir com a indústria é dar continuidade a esse esvaziamento”,
opinou o dirigente.
Para
ele, os industriais começam a perceber que o apoio à eleição de Bolsonaro pode
trazer prejuízos para o setor produtivo. “Deram um cheque em branco para quem
não tem qualquer política industrial que servirá ao Brasil e ao povo”,
defendeu.
Nota
da Força Sindical divulgada nesta segunda-feira (5) ressaltou a importância do
Ministério do Trabalho no avanço das relações de trabalho no Brasil. A entidade
reiterou a necessidade de uma pasta “forte, parceira e protagonista na luta
contra a recessão e pela retomada do crescimento econômico do País, com
respeito aos direitos sociais, previdenciários e trabalhistas da classe
trabalhadora, geração de empregos, distribuição de renda e inclusão social”.
Para
o diretor do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap) e
analista político Antônio Augusto de Queiroz, o Toninho, os representantes da
indústria sabem que, com a área incorporada ao Ministério da Economia, perderão
grande parte dos incentivos e subsídios que hoje recebem. Trabalham, assim,
para preservar seus benefícios e, ao mesmo tempo, sobrepujar os trabalhadores.
“Eles
querem o melhor dos mundos. Querem retirar da equipe econômica o controle sobre
a indústria e o comércio, porque a equipe econômica iria eliminar uma série de
subsídios, incentivos e renúncias. E querem juntar com o trabalho, para que a
produção se sobreponha ao trabalho, ou seja, para que o Ministério do Trabalho
não fiscalize o setor produtivo, e, pelo contrário, seja um colaborador do
setor produtivo, para desmistificar a relação capital-trabalho”, resumiu.
Onyx
Lorenzoni (DEM-RS), futuro ministro da Casa Civil do governo Bolsonaro,
prometeu às entidades que o pleito seria analisado, mas antecipou que Paulo
Guedes é contra a criação da pasta nos moldes propostos pela indústria.
Toninho
avaliou que ainda deve haver muita negociação. “Pode haver muita alteração
ainda, porque esse é um governo movido a pressões. Uma hora diz uma coisa,
noutra diz outra coisa. Eles tomam uma decisão, aí o setor empresarial se
divide e eles voltam atrás. É um governo que quer agradar setor empresarial, e
isso tem resultado em muito vai e vem”, disse.
Por
outro lado, o diretor do Diap prevê que a relação entre o setor produtivo e o
novo governo seja marcada por atritos. “É bom lembrar que quem vai tocar o
governo, na prática, é o Ministro da Fazenda, mais ligado ao mercado financeiro
que ao setor produtivo. Ele vai ter superpoderes. E é por isso que [os
industriais] querem criar esse outro ministério, para fazer um pouco o
contraponto ao ministro da Fazenda”, afirmou.
Em
sua página no Twitter, o economista Marcio Pochmann também comentou a proposta
de fundir os ministérios de Indústria e Comércio com o do Trabalho. “Com o
possível fim da política industrial, apontado pela reorganização neoliberal do
governo Bolsonaro, 10 grandes associações patronais sugerem a criação do
Ministério da Produção, Trabalho e Comércio, podendo ser a ‘pá de cal’ na Era
Vargas de dualidade entre capital e trabalho”, escreveu.
A
proposta de unir no mesmo ministério polos opostos das relações de trabalho
acontece depois de o governo recuar da tentativa de fundir as pastas de
Agricultura e Meio Ambiente, também contrárias em seus objetivos.
Fonte: Railídia Carvalho
e Joana Rozowykwiat, do Portal Vermelho | Foto: Edson Lopes Jr/A2AD/Fotos
Públicas
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