Informativo
REFORMA TRABALHISTA DEIXOU O NOSSO CAPITALISMO AINDA MAIS SELVAGEM
Estamos falando de uma reforma que deixou como saldo mais
de 9 milhões de trabalhadores sem emprego formal, somando desempregados,
informais e desalentados
Por
Antonio Neto
Recentemente, o ex-juiz Sergio Moro proferiu
mais uma de suas pérolas de ignorância: “É inconcebível retrocedermos”, disse,
declarando-se contrário à revogação da reforma trabalhista. Como se a dita
“reforma” tivesse sido um avanço para o País e não um flagrante retrocesso.
E foi além: “No fundo, o que se quer quando
falam em revogar a reforma trabalhista é a volta da contribuição sindical
obrigatória. Quer tirar do trabalhador para sustentar os sindicatos”. Aquele
que pretende disputar a Presidência da República mesmo sem conhecer minimamente
o País, a ponto de citar um inexistente “agreste cearense”, prova que o seu
compromisso com os trabalhadores também é zero.
A discussão sobre a necessidade de revogação
da reforma trabalhista voltou à tona no começo do mês após a Espanha rever as
mudanças na sua legislação que provocaram a precarização do trabalho no país a
partir de 2012. Por aqui, a reforma trabalhista foi aprovada em 2017, durante o
governo Michel Temer, com a falsa promessa de geração de 2 milhões de empregos
em dois anos e 6 milhões em dez anos, mas só trouxe mais desemprego e perda de
direitos dos trabalhadores.
Os que ainda têm coragem de defendê-la,
apesar de todos os números de desemprego recorde e de toda a carestia visível a
olho nu, argumentam que ela não mexeu no Artigo 7º da Constituição, ou seja,
não teria havido a retirada de nenhum direito. No entanto, isso não passa de
uma falácia retórica.
Afinal, não basta não mexer formalmente no
texto da Lei Maior se o seu espírito foi completamente degradado. Por exemplo,
diz o inciso VII do Artigo 7º que é direito dos trabalhadores a “garantia de
salário, nunca inferior ao mínimo, para os que percebem remuneração variável”.
No entanto, a figura do trabalho intermitente, instituída pela lei 13467/17, em
que pese assegurar o valor da hora de trabalho proporcional ao mínimo, faz com
que, na prática, milhões de trabalhadores não tenham direito a receber um
salário-mínimo no final do mês.
Se esses trabalhadores intermitentes não
conseguem fazer horas suficientes para receber o equivalente ao mínimo,
precisam ainda por cima contribuir por conta própria para complementar o
pagamento para a sua previdência, ou simplesmente deixam de contribuir (o mais
provável), impossibilitando que um dia, no final de uma vida de labuta, tenham direito
à merecida aposentadoria (inciso XXIV), outro direito subtraído de forma
implícita – e que foi ainda mais vilipendiado com a reforma da Previdência de
2019, já no desgoverno Bolsonaro.
Há ainda outras questões graves, como fraudes
nas homologações que, após a reforma, agora são feitas diretamente pelas
empresas sem passar pelos sindicatos, além de dificuldades para fechar uma
Convenção Coletiva depois da aprovação do fim da ultratividade, que garantia
segurança jurídica durante a negociação e impunha um patamar mínimo de partida
– agora é preciso negociar cláusula por cláusula do zero.
Em suma, estamos falando de uma reforma que
deixou como saldo mais de 9 milhões de trabalhadores sem emprego formal,
somando desempregados, informais e desalentados. Todos esses milhões de
brasileiros e suas famílias (algo em torno de 30 milhões de pessoas, portanto),
hoje não estão mais protegidos pelos direitos estabelecidos pelo artigo 7º da
Constituição Federal, como 13º salário, férias e FGTS, entre outros.
Apesar de tudo isso, a reforma trabalhista
ainda é festejada pelos neoliberais sem nenhuma preocupação social por causa da
chamada prevalência do negociado sobre o legislado e da extinção do imposto
sindical, com fez o ex-juiz. Ora, a quem interessa o enfraquecimento dos
sindicatos, um dos pilares da democracia? Em um país com o nível obsceno de
desigualdade como o Brasil, em meio à maior crise econômica da nossa história,
que força tem o trabalhador para negociar “livremente” com o patrão sem o apoio
de representação sindical?
O brutal assassinato do jovem congolês Moïse
Kabagambe no Rio de Janeiro, espancado até a morte por cobrar o pagamento pelas
diárias do seu trabalho, é um exemplo que responde a essa questão de forma
tragicamente eloquente.
Fonte: Portal Vermelho | Publicado originalmente
na CartaCapital
Veja mais
-
CTB PROMOVE SEMINÁRIO BRASIL PÓS-PANDEMIA; SAIBA COMO SE INSCREVER
Por André CintraEm ano de eleições presidenciais decisivas para os rumos do País, a CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhador ...25/02/2022 -
BOLSONARO TRAZ A FOME DE VOLTA AO BRASIL
“O país, que havia saído do mapa da fome em 2014, teve um grande retrocesso nos últimos anos, resultado das crises econômicas, do ...25/02/2022 -
O FIM DO AUXÍLIO-RECLUSÃO E A VIOLÊNCIA CONTRA MULHERES E CRIANÇAS
Por Juliana Oliveira“O governo federal publicou, no início de fevereiro, os projetos que são prioritários no Congresso para ...24/02/2022 -
INFLAÇÃO: IPCA-15 TEM A MAIOR ALTA DESDE 2016
A inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 subiu 0,99% em fevereiro.A inflação medida pelo Índice Na ...24/02/2022 -
DECRETO DE BOLSONARO PODE TORNAR IRREPARÁVEL POLUIÇÃO DE RIOS NA AMAZÔNIA
A principal fonte de contaminação dos rios com a atividade garimpeira é o mercúrio, metal líquido utilizado na extração do ouroO ...21/02/2022 -
UM RETRATO DOS "TRABALHADORES INVISÍVEIS" DA SAÚDE
Por Gabriela LeiteAuxiliares e técnicos de enfermagem, de radiologia, de laboratório; maqueiros e condutores de ambulância; pess ...18/02/2022 -
AS LUTAS DAS ENTIDADES SINDICAIS DE SERVIDORES PÚBLICOS
Os salários dos servidores públicos federais estão congelados desde 2018, quando houve o último reajuste para a categoria. Por d ...18/02/2022 -
EDITORIAL DO VERMELHO: AS FEDERAÇÕES PARTIDÁRIAS AVANÇAM
Foi de goleada. Na quarta-feira (9/2), por 10 votos a 1, o STF (Supremo Tribunal Federal) referendou de vez as federações partid ...17/02/2022 -
COMBUSTÍVEIS SOBEM CINCO VEZES MAIS QUE INFLAÇÃO NO GOVERNO BOLSONARO
Os combustíveis subiram cinco vezes mais do que a inflação oficial sob o governo Jair Bolsonaro (PL), com impacto na vida de mil ...17/02/2022 -
MUITO ALÉM DO "CAPITAL": POR QUE MARX ESTAVA À FRENTE DE SEU TEMPO
O Museu Histórico Alemão, de Berlim, abriu na quinta-feira (10) a exposição Karl Marx e o Capitalismo, que se propõe a demo ...16/02/2022 -
MULHERES FARÃO PLENÁRIA NACIONAL DIA 21 PARA PREPARAR 8 DE MARÇO
As mulheres e organizações feministas engajadas na Campanha Nacional Fora Bolsonaro vêm trabalhando na construção das mobilizaçõ ...15/02/2022 -
MANUELA D’ÁVILA E JANDIRA FEGHALI SÃO ELEITAS VICE-PRESIDENTAS DO PCDOB
As duas lideranças femininas comporão um quarteto de vice-presidentes com o objetivo de reforçar a direção nacional num momento e ...14/02/2022 -
LUCIANA SANTOS AFIRMA QUE FEDERAÇÃO PARTIDÁRIA TEM DIMENSÃO ESTRATÉGICA
A presidente do PCdoB afirmou que estão sendo dados passos largos na direção da formação com PT, PSB e PV que são os partidos que ...11/02/2022 -
BOLSONARO ESTÁ ARMANDO MILÍCIAS ELEITORAIS
Jair Bolsonaro, forte candidato à derrota na reeleição, terá o tumulto como estratégiaPor Helena ChagasO projeto de lei que os b ...10/02/2022 -
NÃO À URGÊNCIA DA VOTAÇÃO DO PACOTE DO VENENO (PL 6299)
A Câmara Federal colocou em regime de urgência a votação do Projeto de Lei (PL 6299/2002) para esta quarta-feira (09). A Confede ...09/02/2022 -
83% DOS BRASILEIROS PERDERAM RENDA E FORAM OBRIGADOS A CORTAR DESPESAS
40% precisaram realizar bicos em 2021 para ajudar na renda e 90% possuem algum temor em relação à sua vida financeira em 2022, p ...09/02/2022 -
ARROCHO SALARIAL: 47,7% DOS REAJUSTES FICAM ABAIXO DA INFLAÇÃO
Por André CintraO arrocho salarial virou regra no Brasil sob o governo Jair Bolsonaro. Em praticamente metade dos reajustes nego ...08/02/2022 -
INDICADOR SOBRE EMPREGO DA FGV CHEGA AO PIOR NÍVEL DESDE AGOSTO DE 2020
“A criação de emprego depende de crescimento econômico que, infelizmente, não teremos em 2022”, diz economistaPor Renata VilelaP ...08/02/2022 -
BOLSONARO SABOTA FISCALIZAÇÃO E DESMATAMENTO DA AMAZÔNIA BATE RECORDE
2022 pode ser outro ano devastador para a Amazônia no Brasil, onde o desmatamento aumentou desde que Bolsonaro assumiu a presidên ...04/02/2022 -
CTB PROMOVE SEMINÁRIO DE FORMAÇÃO POLÍTICA E CULTURAL. INSCREVA-SE!
Por André CintraAcontece neste sábado (5), das 9 às 12 horas, o Seminário de Formação Política e Cultural da CTB (Central dos Tr ...04/02/2022