Informativo

14/11/2017

Classe média encolhe e só voltará a patamar de 2014 em seis anos

A classe média no mundo só faz crescer e hoje é formada por mais de 3 bilhões de pessoas, o que equivale a 40% da população global. O Brasil, contudo, vai na direção oposta. Depois da explosão dessa parcela da população entre 2000 e 2014, o país reduziu o número de famílias no segmento C, em meio à grave recessão. Em 2015 e 2016 mais de 4 milhões de famílias passaram às classes D e E.

De acordo com projeção da Tendências Consultoria Integrada, só daqui a seis anos – em 2023 – a classe média brasileira retornará ao patamar de 2014, quando 28% dos lares brasileiros tinham renda mensal de R$ 2.302 a R$ 5.552. Os dados foram divulgados por O Estado de S. Paulo, domingo, 12.

O estudo prevê que, no médio prazo, haverá uma “dinâmica mais concentradora de renda na economia brasileira”. A expectativa é de que a classe A recupere seus rendimentos mais rapidamente que as demais. 

“Enquanto a renda total da classe C vai crescer a uma média anual de 2,3% até 2026, a velocidade entre os mais ricos será de 4,1%, e de 3% para os rendimentos totais. Entre 2003 e 2014, a renda da classe média crescia cerca de 6% ao ano”, diz o texto do jornal paulista.

Recente relatório da ONG Oxfam apontou a brutal desigualdade já existente no país: os 5% mais ricos detêm a mesma fatia de renda que os demais 95%. Se as políticas públicas redistributivas dos governos do PT ajudaram a reduzir a pobreza, os mais ricos continuaram se apropriando do crescimento do país. 

Entre os dois polos, a classe média parece ter ficado um tanto esquecida. Com a crise, foi encolhendo novamente. Antes considerado exemplo de combate à miséria, o Brasil de Michel Temer vive uma volta a um passado triste. A recessão, somada aos cortes em programas e garantias sociais, fez com que, apenas em 2016, entre 2,5 milhões e 3,6 milhões voltassem a viver abaixo da linha da pobreza. 

Um dos fatores de tamanha discrepância entre topo e base da pirâmide, evidenciada em momentos de crise, é o sistema tributário injusto. A Oxfam reforça que a classe média e os mais pobres no Brasil pagam, proporcionalmente, mais impostos que os super-ricos. Para a ONG, o país não reduzirá a desigualdade de renda enquanto os rendimentos do topo não forem mais tributados.

O governo Michel Temer tem falado em realizar uma reforma tributária, mas as ideias discutidas até então não contribuem para uma maior justiça tributária e se resumem, na verdade, a uma simplificação tributária. 

Pelo mundo

Impulsionada pelo ritmo forte de economias asiáticas em desenvolvimento, a classe média global só faz crescer. China e Índia concentram os maiores avanços desse segmento. De acordo com projeções do economista paquistanês Homi Kharas, em 2020, a maior parte da população global já será de classe média. 

“Em cinco anos, o estrato ganhará 170 milhões de pessoas por ano, quando deve alcançar seu pico. Hoje, este número gira em torno de 140 milhões por ano”, diz matéria de O Estado de S. Paulo sobre o assunto. 

Kharas destacou que a expansão da classe média estará muito concentrada na Ásia, enquanto a expectativa é de estagnação em países desenvolvidos e em algumas economias emergentes, como é o caso da brasileira. O cenário impõe importantes desafios aos governos. Nos casos onde há estagnação, os políticos e gestores têm de lidar com o sentimento de frustração e insatisfação desse estrato da população. 

BRASIL X ÁSIA

Kharas comparou o desenvolvimento da classe média no Brasil e nos grandes países asiáticos, sinalizando que o boom da classe média no Brasil foi uma obra inacabada. “Os asiáticos continuaram a abrir seus mercados, dando grande ênfase à educação, permitindo às próximas gerações o acesso ao padrão de vida da classe média”, disse.

Em entrevista ao Portal Vermelho, no final de setembro, a assessora política do Inesc, Grazielle David, associou o descontentamento latente da classe média às manifestações difusas que ocorreram pelo país.

“A classe média começa a enxergar a redução da pobreza, as políticas públicas redistributivas, como o Bolsa Família, como sendo um problema. Porque desconhecem que, na verdade, não é a redução da pobreza que as afeta, mas a desigualdade. Não se criaram mecanismos para conter a desigualdade de quem está no topo, o 1% mais rico, que continuou a se apropriar do crescimento”, apontou a assessora.

Fonte: Portal Vermelho, com O Estado de S. Paulo

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