Informativo
OS DESAFIOS DO SINDICALISMO CLASSISTA: CAMINHOS PARA SAIR DA DEFENSIVA
Por
Valéria Morato*
O ano de 2021 será marcado por grandes
debates para o movimento sindical classista. Nossa central sindical, a CTB
(Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil), convocou para os dias
12, 13 e 14 de agosto seu 5º Congresso Nacional – que será precedido pelas
etapas estaduais. Além disso, entidades classistas que têm atuação nacional e
representam importantes categorias – como a Contee (trabalhadores do ensino
privado) e a Fitmetal (metalúrgicos) – agendaram congressos ou plenárias para
este ano.
As atividades ocorrem sob uma conjuntura
desfavorável, que levou o sindicalismo brasileiro a uma fase de defensiva
histórica. O golpe de 2016, além de derrubar uma presidenta legitimamente
eleita, impôs uma agenda de retrocessos. Nos últimos anos, houve ataques tanto
à classe trabalhadora (contrarreformas, precarização, uberização, desemprego e
fim da proteção social) quanto às organizações sindicais (estrangulamento
financeiro, perda de associados e enfraquecimento do poder negocial).
Esse quadro foi agravado ainda mais em 2019,
com a chegada de Jair Bolsonaro ao poder, e em 2020, com o início da pandemia
de Covid-19 no Brasil. Mais uma vez, os trabalhadores – em especial as
mulheres, os negros e os jovens – foram os mais penalizados com a conta da
crise econômica, social e sanitária.
A ofensiva conservadora não dizimou as
entidades sindicais. Ainda assim, a realidade exige que cada liderança reveja a
forma como seu sindicato atua, sua abrangência, sua relação com as bases, sua
capacidade de representação, seus objetivos. Cabe a todos nós debater saídas
para conquistar (e reconquistar) filiados, dialogar com públicos
diversificados, reorganizar a atuação, buscar novas formas de financiamento e
potencializar nossa ação política e organizativa.
Uma das missões centrais do sindicalismo
classista é construir ações integradas que reconfigurem a comunicação com a
categoria e a sociedade, além de revitalizarem a própria ação sindical.
Precisamos de diálogo para estabelecer e fortalecer vínculos e ligações, formar
redes, identificar, explicitar e compreender os pressupostos que dificultam a
percepção das relações. E precisamos de transversalidade para abrigar novas
pautas na agenda sindical, despertar o interesse dos trabalhadores e dialogar
com setores que estão à margem das organizações sindicais.
É assim que poderemos criar as condições
necessárias para mobilizações e debates sobre a conjuntura política atual, os
desafios do sindicalismo classista, do campo popular, democrático e
progressista, bem como seus desdobramentos eleitorais em 2022. É tempo de
mobilizar e engajar as categorias, politizar o debate, valorizar a ação
política dos sindicatos, fortalecer a reputação (a credibilidade histórica) do
movimento sindical, obter ganhos políticos e organizativos no curto, médio e
longo prazos.
A nosso ver, as ações para fortalecer o
movimento sindical classista passam por quatro eixos integrados: a)
Inteligência; b) Formação; c) Campanhas e Eventos; e d) Parcerias e captação de
recursos. Em cada um desses eixos, listamos iniciativas para fortalecer os
sindicatos e deixar as condições de luta mais favoráveis aos trabalhadores:
INTELIGÊNCIA
– Realizar pesquisas
de diagnóstico (destrinchar o perfil e as expectativas pessoais e coletivas dos
trabalhadores);
– Construir estratégias de abordagens segmentadas (faixa etária, regiões
prioritárias, interesses específicos, etc.);
– Estruturar e alimentar o “big data” do seu sindicato, com base nos dados
disponíveis e em novas informações;
– Aprofundar a integração de canais de relacionamento das entidades:
site, Facebook, YouTube, Instagram; call center, mala-direta,
atendimento no guichê, rescisão, etc.
FORMAÇÃO
– Produção de conteúdos políticos e
pedagógicos em diversas mídias, de forma remota e, quando possível, presencial;
– Estruturação de cursos e séries dirigidas aos públicos-alvo (parceria com
universidades, institutos de formação, poderes públicos e outros parceiros);
– Promover ciclos de palestras, debates e seminários (online e, quando
possível, presenciais) sobre temas diversos da contemporaneidade de interesse
dos trabalhadores, com especialistas e outras figuras públicas.
CAMPANHAS E EVENTOS
– Planejar e executar
campanhas comemorativas alusivas aos aniversários das entidades;
– Planejar e executar campanhas de filiação;
– Planejar e executar eventos culturais;
– Criar calendário anual de eventos;
– Dar ampla visibilidade às campanhas salariais e aos dissídios coletivos.
PARCERIAS E CAPTAÇÃO
DE RECURSOS
– Criar núcleo
de captação de recursos para eventos, publicações e campanhas;
– Ampliar parcerias institucionais do sindicato com entidades do 3º setor,
universidades, institutos e centros de pesquisa e formação;
– Ampliar política de convênios e divulgar mais os convênios já existentes.
É claro que essas ações não são suficientes
para vencermos os problemas políticos e econômicos que impactam o movimento
sindical. Medidas mais complexas, de médio e longo prazo – como o fim da
reforma trabalhista, a eleição de mais parlamentares sindicalistas e a
derrubada do governo Bolsonaro –, devem estar sempre entre as prioridades das
entidades classistas.
Mas as propostas que listamos aqui podem,
sim, mudar a correlação de forças e ajudar os sindicatos a cumprirem, uma vez
mais, sua missão. São caminhos e ferramentas – ações concretas – para que o
sindicalismo saia da defensiva e volte à linha de frente das batalhas em defesa
dos trabalhadores, da democracia e do Brasil.
*Valéria
Morato é presidenta da CTB-MG e do Sinpro-MG
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