Informativo
DESEMPREGO ENTRE OS JOVENS APONTA MERCADO DE TRABALHO DESAFIADOR
Por
Vitória Pierri
Os jovens formam um dos grupos mais afetados
pelo desemprego no Brasil. Dos quase 14 milhões de desempregados no quarto
trimestre de 2020, cerca de 70% eram pessoas na faixa-etária entre 14 e 24 anos
de idade, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
Contínua (PNAD), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE). Com a inserção das novas tecnologias, esse grupo encontra
um mercado de trabalho cada vez mais exigente e consequentemente com mais
dificuldades para garantir novas oportunidades.
A especialista em Psicologia do Trabalho,
Adriana Cristina Ferreira Caldana, professora da Faculdade de Economia, Administração e
Contabilidade de Ribeirão Preto (FEA-RP) da USP, conta que, diferentemente
de 20 a 50 anos atrás, essa geração está diante de um cenário de
redução “não só de mão de obra física, pelas máquinas”, como também da mão
de obra qualificada, que “pode ser e já está sendo substituída pela
inteligência artificial”. Para ela, essa classe se depara com mais barreiras,
pois “o mercado de trabalho que temos hoje é um mercado de trabalho bastante
dinâmico”.
Tem sido assim para a jovem Vitória Eduarda
dos Santos, de 21 anos, que está em busca do seu primeiro emprego. Ela não
concluiu o ensino fundamental devido a motivos de saúde e, embora não tenha
experiência profissional, conta que não esperava que a trajetória para entrar
no mercado de trabalho seria tão difícil. “Eu imaginava que seria mais fácil.
Muitos dos lugares pedem experiência, eles não dão oportunidade para quem não
tem.”
As dificuldades para entrar no mercado, além
dos índices de desemprego aliados à crise econômica que se instalou no Brasil,
somados à pandemia, fazem com que jovens como Vitória se sintam desanimados.
Apesar de aconselhada a concluir os estudos, a jovem acredita que, diante do
atual cenário, isso pode não fazer diferença. “Está difícil para todos nós, até
para quem já tem faculdade”, desabafa, “os estudos são importantes sim, mas
neste momento, vendo o mercado de trabalho, acredito que não está fazendo diferença”.
Apesar de não encontrar oportunidades, Vitória entende a necessidade da
profissionalização. Diz que sua expectativa é conseguir emprego para investir
em cursos de especialização e um dia ter seu próprio negócio.
MERCADO
REQUER ESPECIALIZAÇÃO
Já para Reginelma Siqueira Ferreira Alves, 41
anos, concluir os estudos foi uma necessidade. Ela entrou no mercado de
trabalho apenas com o ensino fundamental, mas conta que precisou voltar para a
escola para continuar empregada. “Há uns dez anos eu trabalhava em uma firma
que nessa época exigiu que os funcionários tivessem até a 8ª série, pois se não
tivessem eles iriam dispensar.”
Reginelma voltou a estudar e decidiu concluir
toda a educação básica e, após terminar o ensino médio, resolveu realizar um
sonho antigo: cursar o técnico em Enfermagem. Hoje, formada, reconhece a
importância da qualificação para conseguir se inserir no mercado. “Hoje em dia
o desemprego está muito grande mesmo e há dificuldade de encontrar pessoas
especializadas em várias áreas. As empresas procuram qualificação. A pessoa
precisa estudar e se qualificar para conseguir se encaixar nas vagas de emprego
que têm”, afirma.
Para a professora Adriana, estudar é a porta
de entrada para o mercado de trabalho, mas aconselha os jovens a não se apoiarem
apenas no diploma do ensino superior e na qualificação profissional. Afirma que
eles devem estar abertos a “aprender capacidades para além do que um curso de
graduação pode oferecer”. E diz que o ensino superior deve ser um ambiente para
“formação de opinião, de base e de discernimento”, para que os jovens aprendam
a “distinguir informações relevantes de informações falsas ou irrelevantes”. E
que, para o primeiro emprego, “é preciso flexibilidade e saber buscar
oportunidades dentro e fora dos muros da universidade”.
TECNOLOGIAS
TAMBÉM PODEM ABRIR PORTAS
Apesar de o caminho para chegar à ascensão
social por meio do trabalho ser difícil, a professora Adriana afirma que, por
outro lado, a tecnologia também pode abrir portas para novas possibilidades. “Alguns
jovens que se colocam em startups e empresas ligadas à tecnologia conseguem, às
vezes, um ganho muito expressivo até precocemente”, conta.
Segundo Adriana, o que o mundo corporativo
espera dos jovens é que, além do conhecimento das novas tecnologias, eles
estejam atentos às tendências de sustentabilidade, diversidade e a promover
mudanças que causem impacto positivo para a sociedade. A professora também
conta que, com o dinamismo do mercado atual e das relações de trabalho no mundo
contemporâneo, hoje os jovens podem, com maior facilidade, desenvolver mais de
uma carreira profissional ao longo da vida. “As gerações novas ficam muito
menos tempo no emprego e também desejam muito menos relações de emprego em
relação ao que era projetado para as carreiras de 20 a 50 anos atrás”,
afirma.
Para a especialista, a sociedade e os
governos também podem ser uma peça fundamental para que esses jovens
encontrem novas oportunidades. Diz que é preciso promover “mais desoneração”
para a oportunidade do primeiro emprego e afirma que “as empresas precisam
construir a mentalidade de mentoria” para instrução dos jovens que estão
ingressando no mercado de trabalho. Nesse sentido, diz Adriana, “as
organizações da sociedade civil também podem se articular para fazer esse movimento
de atuação”, diante do desemprego entre jovens.
Fonte: Jornal
da USP
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