Informativo

03/11/2020

INDÚSTRIAS PENAM COM FALTA DE MATÉRIA-PRIMA E PREÇO DA REFEIÇÃO DISPARA

Sem política industrial nem política de segurança alimentar desde o golpe de 2016, que destituiu a presidenta Dilma Rousseff, o Brasil, grande produtor mundial de aço, algodão, arroz e soja, sofre com a falta desses produtos no mercado nacional e com a alta dos preços dos alimentos.

O governo de Jair Bolsonaro (ex-PSL) assumiu há quase dois anos e até agora a equipe econômica, liderada pelo banqueiro Paulo Guedes, não apresentou uma proposta sequer em áreas essenciais para o desenvolvimento econômico e sustentável do país. Todas as propostas são de retirada de direitos sociais, trabalhistas, previdenciários e aceleração do processo de privatização. Até o Sistema Único de Saúde (SUS), eles querem privatizar. Esta semana, Bolsonaro recuou da privatização das Unidades Básicas de Saúde (UBS) depois de uma onda de reprovação em todos os setores da sociedade.

Enquanto o governo anuncia e recua de propostas inviáveis, mal elaboradas e não discutidas de forma transparente, que prejudicam a população brasileira, em especial a mais pobres, as dificuldades com a falta de matéria-prima paralisam a indústria nacional.

De acordo com pesquisa feita pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), 68% das empresas estão com dificuldades de comprar matéria-prima para retomar a produção. Além disso, 82% perceberam alta nos preços dos insumos, sendo que para 31% o aumento foi acentuado.  O levantamento foi feito com 1.855 empresas no país no período de 1 a 14 de outubro.

PESQUISA PULSO EMPRESA

Impacto da Covid-19, da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), mostrou que no Estado de São Paulo a situação é a mesma: 51,8% das indústrias tiveram dificuldades na compra de matérias-primas. A pesquisa foi feita com 414 indústrias paulistas dos dias 7 a 13 de outubro. Dessas, 81,4% apontaram aumento nos preços dos insumos.

Entre os motivos da falta de matéria-prima apontados pelo estudo da Fiesp está a forte retomada da economia chinesa, que pressionou o mercado de matérias-primas no mundo. Outro motivo é o câmbio. De janeiro a setembro, a valorização do dólar em relação ao real foi de 30,1%.

“A falta de matéria-prima no Brasil agrava o processo de desindustrialização que o país vem sofrendo e o país caminha a passos largos para virar uma nação apenas produtora de commodities e importadora de bens manufaturados”, alerta o diretor administrativo do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC (SMABC), Wellington Messias Damasceno.

Os produtores primários estão ganhando dinheiro com exportação por conta do dólar alto – esta semana um dólar americano bateu na casa dos R$ 5,766 -, enquanto a indústria brasileira deixa de produzir por falta destes insumos e a população brasileira sente no bolso o aumento do custo da alimentação, analisa o dirigente.

A diferença é que esses países [importadores] têm políticas agressivas de Estado para aquisição de produtos para sua produção e industrialização, inclusive voltados à exportação. Já o Brasil enfraquece sua indústria, trabalhadores perdem empregos e renda, com empobrecimento ainda maior das famílias. Assim não teremos condições de comprar os produtos que nós mesmos produzimos.

COMIDA NA MESA

É inadmissível o país bater recordes na safra de alimentos e na extração de minério de ferro e esses produtos estarem em falta no Brasil, critica o dirigente, preocupado com a escala dos preços da cesta básica que, entre janeiro e outubro deste ano, subiram 9,75%, de acordo com Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo – 15 (IPCA–15). No período, o IPCA-15 subiu 2,31%.

E se forem considerados apenas os alimentos consumidos no domicílio, aqueles comprados em supermercados, o aumento nos preços no ano foi de 12,69%, segundo estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), divulgado no Estadão esta semana.

“O que vem acontecendo na indústria é o mesmo em relação aos produtos básicos da alimentação, entre eles o arroz e o óleo de soja. O Brasil bate recordes nas safras de arroz e soja, mas vende para os mercados chineses e europeus, que estão retomando seu poder de compra e fazendo estoques de alimentos por conta da preocupação com a segunda onda da pandemia”, diz o diretor administrativo do SMABC.

“Isso faz com que o Brasil exporte alimentos baratos enquanto os brasileiros sofrem com a alta no preço, tornando cada vez mais escassa a alimentação na mesa dos trabalhadores e aumentando a miséria da população. Tudo é reflexo da falta de uma política estratégica do governo federal, que impacta nos empregos, na indústria, na cesta de alimentos das famílias”, concluiu.

Fonte: CUT | Foto: EBC

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