Informativo
CASA VERDE E AMARELA: BOLSONARO EXCLUI BAIXA RENDA DO ACESSO À MORADIA
A parcela da população que forma a maior
parte do déficit habitacional do Brasil não está contemplada no mais novo
programa de governo Jair Bolsonaro voltado à área habitacional. Instituído por
meio de Medida Provisória e anunciado nesta terça-feira (25/8), o Casa Verde e
Amarela exclui as famílias com renda até três salários mínimos.
Trata-se de um segmento que não tem condições
financeiras para a contratação de crédito imobiliário. Essa injusta restrição
foi sugerida na MP ao anunciar que famílias com renda mensal até R$ 2 mil
estarão sujeitas a taxa de juros a partir de 4,25% anual.
O Minha Casa, Minha Vida, projeto dos
governos Lula e Dilma, não previa operações de crédito sujeitas a aprovação
cadastral para faixa de renda familiar até R$ 1.800. Em vez disso, havia um
subsídio que chegava a 95% do valor do imóvel, com prestações entre R$ 80 a R$
270 conforme a renda familiar.
Evaniza Rodrigues, da União Nacional por
Moradia Popular (UNMP), critica o programa bolsonarista. Segundo ela, para
acessar o novo programa, as famílias precisarão atender a uma série de
critérios (nome limpo no mercado e não possuir dívidas com bancos) e não terão
condições de comprová-los para contratar o financiamento habitacional.
“Também há a chamada análise de risco de
crédito dos bancos – as famílias pobres não têm como ser aprovadas. Ou seja,
pela lógica do atual governo elas continuarão a ser excluídas da política
habitacional”, destaca. Para Evaniza, no formato em que foi apresentada, a MP
consolida a exclusão dos mais pobres do direito à moradia.
“Num programa habitacional para a faixa de
renda de até três salários mínimos, o importante é ter alto subsídio.
Financiamento não resolve”, defende Patryck Carvalho, secretário de Políticas
Públicas e Relações Institucionais da Federação Nacional dos Arquitetos e
Urbanistas (FNA). Como mais de 80% do déficit habitacional no País está
concentrado nesta faixa de rendimentos, Carvalho entende que a proposta do
governo nada mais é do que um programa de financiamento que não atende às necessidades
e carências por habitação das famílias brasileiras de baixa renda ou nenhuma
renda.
O dirigente chama a atenção, ainda, para os
R$ 500 milhões anunciados para regularização fundiária e melhorias
habitacionais. A verba, segundo o governo, foi negociada com a Febraban, mas
são recursos oriundos do FDS (Fundo de Desenvolvimento Social) – não dos
bancos.
Para Getúlio Vargas Júnior, presidente da
Confederação Nacional das Associações de Moradores (Conam), a MP é um “grande
retrocesso”. O centro do déficit habitacional no Brasil está na faixa de renda
descoberta pelo programa – historicamente chamada de habitação de interesse
social e foco permanente do sistema nacional de habitação.
“Além de ser muito mais uma carta de
intenções do que um projeto estruturado, o programa foi lançado sem que
houvesse diálogo com a sociedade”, diz Getúlio. “Hoje não temos mais os
conselhos das cidades e fóruns de articulação e concessão dessas políticas
públicas. Também não vai no centro da questão, que é onde se encontram as
famílias que ‘sustentam’ o déficit por habitação no País.”
O dirigente reforça também que a MP não foi
construída pensada como um plano nacional de moradia articulado com uma
política nacional de desenvolvimento urbano. “O que foi apresentado não se caracteriza
como um projeto nacional para enfrentamento do déficit. É diferente do Minha
Casa, Minha Vida, que veio como uma proposta anticíclica após a crise de
2008/2009, mas que carregava uma função social muito forte”, afirmou o
dirigente.
Na opinião de Getúlio, da forma como o
programa Casa Verde e Amarela foi construído, sua proposta é muito mais uma
solução para o mercado do que para a realidade habitacional brasileira. Segundo
o presidente da Conam, para viabilizar uma política habitacional no País, não
são necessários projetos ou MPs. Basta pôr em prática o que já existe, como a
Lei da ATHIS (Assistência Técnica para Habitação de Interesse Social).
Fonte:
Portal Vermelho, com informações da FNA (Federação Nacional de Arquitetos e
Urbanistas)
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