Informativo
O Brasil está mesmo se recuperando?
A divulgação no último dia 01/09 do crescimento de 0,2% do PIB no
segundo trimestre em relação ao trimestre anterior levou o presidente Temer a
afirmar que o "Brasil está crescendo, está se recuperando"[1], e a
festejos e autocongratulações dos apoiadores do governo no Congresso e nos
meios de comunicação. Podemos concordar com ele e com, por exemplo, a revista
Exame, que anuncia que o "Brasil começa a consumar virada histórica na
economia"[2]?
Por Emilio Chernavsky*
Após a inédita queda acumulada de quase 7,3% entre
2015 e 2016, o PIB em 2017 parece efetivamente ter parado de cair. Essa parada
era, todavia, esperada, e não indica o início de um ciclo de crescimento. Isso
porque, em primeiro lugar, o crescimento recente é muito pequeno em vista da
queda acentuada nos trimestres anteriores, o que faz com que o PIB do último
trimestre ainda seja menor que aquele registrado no primeiro trimestre de 2016,
último do governo Dilma.
Em segundo, o crescimento não é generalizado, mas
ocorreu graças a dois fatores pontuais que não devem se repetir: no primeiro
trimestre, ao aumento da produção agropecuária resultante de uma safra recorde
canalizada para as exportações e, no segundo, ao aumento do consumo das
famílias propiciado pela liberação dos saldos das contas inativas do FGTS. O
investimento, por seu lado, continuou caindo nos dois trimestres.
Além do próprio PIB, outros indicadores, apesar de
largamente comemorados pelo governo, mostram apenas uma recuperação muito
tênue: a produção da indústria de transformação cresceu 0,2% no ano (até
julho), embora em 12 meses tenha caído 1,4%, e as vendas no comércio varejista,
apesar de terem crescido em junho depois de muito tempo, ainda registram queda
de 0,1% no ano e, em 12 meses, 3,0%.
A alegada recuperação do emprego, por sua vez, se
apoia principalmente na substituição de trabalhadores com registro em carteira
por aqueles na condição de informalidade, tanto que apesar da tão festejada
criação de empregos formais nos últimos meses, seu número ainda é quase 1,2
milhões menor que o registrado em abril de 2016, último mês do governo Dilma.
Já o rendimento médio do trabalho, após o aumento resultante da desaceleração
da inflação em 2016, passou recentemente a cair.
A estagnação do emprego e a estagnação ou mesmo queda
dos salários reais deve manter o consumo das famílias deprimido, não obstante
eventuais espasmos provocados por medidas pontuais.
Com a regra do teto dos gastos adotada em 2016, os
investimentos públicos devem continuar em queda.
Com o fim do período principal de safra agrícola e com
a manutenção da taxa de câmbio valorizada, as exportações líquidas não devem
mais crescer.
Sem a indução do crescimento da demanda oriunda das
famílias, do governo nem do exterior, o investimento privado deve continuar em
queda.
Se a incipiente recuperação de alguns indicadores
indica que a economia parou de retroceder, a estagnação da demanda e a ausência
de motores para fazê-la crescer não permite falar em retomada. Sem a retomada,
com a queda da renda familiar e o aumento do desemprego de longa duração, e com
o corte das transferências de renda do governo e a deterioração dos serviços
públicos, a violência nas cidades deve continuar a crescer. Longe da esperança
propagada pelo governo, a vida da população nos próximos meses deve continuar a
piorar, e as perspectivas de melhora seguirão turvas.
[2] http://exame.abril.com.br/revista-exame/brasil-comeca-a-consumar-virada-historica-na-economia/
*Emilio
Chernavsky é doutor em economia pela USP
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