Informativo
LULA: SEM POLÍTICA NÃO EXISTE ECONOMIA
Em entrevista ao jornal GGN, representado
pelos economistas e professores Luiz Gonzaga Belluzzo e Eduardo Moreira, Lula
solta afirmou que é necessário conhecer o Brasil, pois ‘o Brasil e seu povo é
muito melhor do que essa gente que governa’.
No início da entrevista Lula falou sobre dois
temas distintos. Um deles foi a solidariedade prestada à família de Ágatha,
assassinada no Rio de Janeiro. O outro ponto levantado foi a questão da
progressão da pena. Lula disse ter conversado com seus advogados e definido que
não quer progressão, pois pede progressão quem é culpado e está condenado, e
como não é culpado o que quer é sua inocência. “E se alguém tem que pedir
perdão é o tal do Moro e o tal do Dallagnol”, diz ele. Afirma estar tranquilo
ali e muito ciente da canalhice que fizeram com ele e, se provarem qualquer
ilícito que tenha porventura cometido, aí sim se cala. “Eu quero sair daqui
inocente, cem por cento como eu entrei”, conclui.
“Desigualdade não é vista no governo como uma
questão política, uma questão prioritária”, inicia Lula. “O pobre é um número
estatístico que você utiliza de vez em quando”, diz ele. Lula conta que, ao ser
eleito, levou os ministros para conhecer o Brasil real, aquele para o qual
tinham sido eleitos, e não Brasília. Ele considera que o esquecimento dos
pobres faz parte da cultura brasileira.
Representação popular em seu governo sempre
foi uma tônica, lembra Lula. Ao longo de seu governo fez 74 conferências
nacionais, em que os diversos atores, e todos cidadãos brasileiros, sentiam que
estavam influindo nas políticas públicas.
O ex-presidente diz uma frase fundamental:
“Eu fui eleito para governar para todos!”. Esta frase sintetiza a máxima de
que, mesmo vindo de onde veio, sabia que sua função não era um ou outro, eram
todos. E, da mesma forma com que olhou e proporcionou políticas de proteção
para os menos favorecidos, deitou olhos no empresariado, que nunca foi tão
respeitado quanto em seu governo. E foi em seu governo que, pela primeira vez,
os 20% mais pobres tiveram aumento maior que os 20% mais ricos. Isso foi
governar para todos, cuidando daqueles que precisavam mais.
É preciso olhar ainda que, mesmo com o país
crescendo de 1950 a 1980, na ordem de 7% ao ano, não houve distribuição de
renda. A economia crescia, e ele cita 1973 quando era trabalhador da Villares,
e não se sentia esse crescimento. “Sentia que tinha mais empregos, mas o
salário não crescia”, explica.
Sua experiência com orçamento vem da
juventude. Ali, os salários eram juntados, dos oito irmãos, e a mãe ia pegando
os montantes que deveriam ser usados para o pagamento de contas. No orçamento
da União a coisa se repetia. O orçamento já vinha fatiado entre os diversos
setores, mas ali não estavam incluídos os mais pobres, que não estavam
organizados e nem tinham voz. E ele via a necessidade desta inclusão, senão os
mais pobres estariam lascados.
No quesito educação, Lula já avisou sua
equipe: “Quando falar em educação não existe gasto, é investimento”. Da mesma
forma saúde e os mais pobres. Lembra ele que um trabalhador com saúde produz
muito mais, assim como com educação.
Lula fala da Previdência, que era
superavitária por ter um número muito maior de contribuintes, que arcavam com a
sua parte do sistema. Isso foi possível graças à criação de tantos postos de
trabalho, de incentivo à pequena e média indústria, pequeno e médio comércio.
Com dos dados de hoje a Previdência só pode ser deficitária. “Não se fala em
Reforma da Previdência em tempos de crise”, alerta Lula, já que ela é para
resolver o problema das pessoas que estão desassistidas. E relata as reformas
feitas em seu governo na Previdência.
E Reforma Tributária, que é tudo que pode ser
feito de melhor em distribuição de renda, não é vista assim, diz ele. Relata a
reforma que fez em seu governo, entregue em abril de 2007, que contou com a
aprovação de governadores de Estado, das centrais sindicais, de todas as
federações industriais lideradas pela CNI, além de aprovação de todas as
lideranças no Congresso Nacional. Quando chegou ao Congresso o que aconteceu?
Não andou.
Leia também: Julgamento do STF a condenado da
Lava Jato pode afetar outros réus, como LULA
A mentalidade do brasileiro, de querer pagar menos imposto, não deixa uma
reforma dessas andar. O país precisa constituir uma mentalidade política, é
preciso trabalhar a politização da sociedade para encarar os desafios do país.
O cidadão precisa entender que não adianta votar num galo de briga para a
Presidência e num monte de raposa para o Congresso. “As raposas vão comer o
galo de briga”, diz.
É preciso rever o discurso para que as
pessoas entendam que é preciso votar de acordo com aquilo que eles querem para
si e para o país. Foi isso que o moveu a criar um partido, juntando o desejo
com a forma de lutar.
Retoma a importância do programa de cisternas
e o Luz para Todos, que incluiu com direitos e movimentou a economia, tanto
local quanto nacional. É preciso aprender além dos livros, com a vida. Bom
lembrar que, com a Lava Jato criminalizando as empresas, milhares de
trabalhadores perderam seus empregos e empresas quebraram, e a CNI e Fiesp não
levantaram um dedo para defender pessoas jurídicas, que não cometem crimes, que
são cometidos por pessoas físicas.
Fala da Petrobras que, por seu turno, não era
empresa de petróleo, e sim a maior fomentadora de desenvolvimento deste país. E
o desserviço que a Lava Jato fez ao país, vendendo a Petrobras como coisa
podre. A lógica da política e economia atual é da destruição.
Lula relata que seus advogados estão entrando
com ação nos Estados Unidos contra o DoJ para provar que os únicos que estão
ganhando com esta safadeza que acontece no Brasil são eles. A economia
brasileira perdeu mais de US$ 142 bilhões, o que devolveram não é nada, não
representa nada.
A briga é de todos, e nunca tivemos tantos
motivos para brigar. O cara fala ‘tem que ir pra rua’, mas não vai. Todos
precisam ir. Existem muitas lideranças para isso, e até cita Ciro Gomes.
Política é química entre pessoas, é como casamento, diz Lula, você faz
concessão, sua parceira faz concessão, os filhos fazem concessões, e todos têm
também suas vitórias. É o maior exemplo de democracia do mundo.
Cita ainda o Conselho de Desenvolvimento
Econômico e Social, um grupo heterogêneo onde todo mundo fazia política para
todo mundo, entrosados.
Orçamento é questão de querer. Coloca na roda
a Política do Puxadinho, o incentivo via Caixa para que o pobre pudesse
aumentar sua casa. Isso movimentou a indústria de cimento no país, movimento
outros setores, fez com que o desejo do pobre se tornasse motor de economia.
A questão da importância dos bancos públicos
também é debatida, pela importância do crédito no desenvolvimento, em condições
diferenciadas para que o tomador possa dar o próximo passo. O investimento
público induz o investimento privado. E discorre sobre a indústria nacional.
Lula vai finalizando. Diz que só pode falar
sobre o que foi feito, e repetiria muitas coisas e mudaria outras tantas. E não
privatizaria jamais. Cita a Petrobras, que deveria ser o motor de
desenvolvimento deste país e, com os 75% dos lucros do pré-sal, recuperaria a
dívida secular que o país tem com educação.
O ex-presidente conta que, em 2014, não
conversou a ex-presidente Dilma, para ser o candidato, por respeito a ela. Ela
tinha o direito de ser a candidata. E depois as coisas desandaram um pouco.
Dilma saiu da eleição muito magoada. Lula diz que dava muito menos palpite para
a Dilma do que as pessoas imaginam. Por respeito. Critica, no entanto, a
política de desoneração praticada, que no lugar de ser um desafogo se tornou
uma política perene. O que é um erro.
Fala das alianças necessárias. É preciso que
se tenha claro o que se quer e como se quer, senão não resolve e vai criar
vítimas no caminho.
E, por fim, Lula solta aos entrevistadores
que é necessário conhecer o Brasil, pois ‘o Brasil e seu povo é muito melhor do
que essa gente que governa’!
Fonte:
Jornal GGN | Foto: Reprodução
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